segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

heresias às 7 da matina em lençóis franceses.

-O que você escreve tanto aí ,hein!?
Ah,ela era linda ,mas era uma garçonete de club alternativo...
E esse meu "mas" denota o x da questão:por serem tão belas com aqueles braços tattooados e uma feminilidade/espírito de uma amazona guerreira ,você tem que saber que não tem chance alguma pra começo de conversa .Porque essas mulheres foram diabólicamente escolhidas a dedo num pacto maligno(sem saberem) por chefes que leram Maquiavel demais e também porque essas mulheres ouvem gracinhas a noite inteira e não dão a mínima prum bando de homens patéticos com colares de madeira de bolinha falando merda num bar ao som de Softcell ;elas fazem parte de uma beleza que é somente para ser apreciada.
E lá ,lá estava ela na minha frente e ela tinha me feito uma pergunta .
Não deve ter sido uma cena agradável a que ela olhava:eu lá bebendo o drink que batizei com meu nome(como diria o Pirata :"uma tentativa de colocar meu nome para a posteridade"...) e escrevendo no caderninho "melinda e melinda" com aquele visual que passou de Capt. Nascimento para Che Guevara-lobisomen-do-submundo com aquela barba lupina toda cheia de falhas,uma boina que já foi um dia preta e agora se parece com a cor daquela camisa desbotada que você guarda pra limpar porra e uma cara vermelha de sakê digna daqueles animes bons.
-Ah...um monte de bobagens...
È.Foi o que saiu.
Nada brilhante para dizer a uma moça daquelas e provávelmente nada sexy ;mas tão verdadeiro...
Mas ela sorria.E eu só dizia para ela coisas como ":uma vodka ,uma cerveja ,uma vodka/uma cerveja,por favor ,obrigado" e enterrava a cara olhando para o meu caderno ,mas quando ela se virava eu a olhava balançando aquela bunda e equilibrando a bandeja cheia de cervejas em slow-motion cheia de graciosidade,gostava do rosto dela,do seu nariz fino,as pernas compridas e nunca ,nunca bati uma por ela porque era como se ela fosse sagrada :uma garçonete de club alternativo .
Deu um tiro na minha testa,aquela bala no tambor que ninguém contou em filme do Domingo Maior :
-Eu escrevo também:sempre quando chego em casa as 7 da manhã escrevo na mesa da cozinha comendo um pão de queijo .Escrevo até dar sono.
Quem viu ela falando comigo ,deve ter achado que estava perguntando se eu ia querer outra vodka ,mas ,no meio daquele barulho ela havia feito uma declaração :uma mea culpa, pois o tom dela era como se estivesse confessando um crime sujo e olhava para mim com uma ternura-triste ;como se precisasse de um cúmplice . Eu balançava a cabeça e entendia o porque dela ter cometido a infração .Eu dizia com o meu olhar "é eu sei ...".
-Jamais diria para você "ai,deixa eu ver !"-disse fazendo uma vozinha hilária e aguda :balançava a cabeça como se fosse retardada e esticava os braços como se fosse pegar o caderno.
Ok.Ela falou muito mais que eu e até agora eu não disse nada .
-Se você fizesse isso eu te(fuuuuuuuuu...)
Ela virou a cabeça ouvindo alguém chamá-la e foi como se um vento muito forte cortasse a minha voz ,ela só virou a cabeça e depois olhou para mim como se dissesse"é ,deixa eu ir " e eu entendi ,porque fazia isso direto no meu trabalho.Nessas horas é que eu pensava "tenho que sair desse emprego"...
Bem,depois daquilo ela atendia um cem número de pedidos e na fila para pagar a conta ela me avistou e deu um tchauzinho e fez um sinal com as mãos,como se segurasse uma caneta imaginária e a palma da sua mão era um caderno;como se dizesse "daqui a pouco vou escrever ,escreve também!";fiz aquele sinal de jóinha patético que os homens fazem e ela balançou a cabeça.
Busão lotado .Nem ligo.Um monte de gente "amuada" como diria um velho amigo e todo mundo vai pra Raposão :êta povo do Butantã que se revela nesses busões ás 5 da matina...
Peraí,lembra ,a gente tem que colocar o dedo na fechadura para encaixar a chave nessas condições ,né?!Feito:não ,não esqueci ainda.
Lembro da minha mãe que me dizia :
-Não dorme com essa camisa nova ,Belmont,senão vai encher de bolinha !
Ah,mãe:já foi !Mas com que camisa eu estava deitado??Ah!Lá estava o senhor Morrissey e sua trupe na minha camisa olhando para mim,todos e convidando para beber em frente ao Salford Lads Club...
-Seus bastardos ,bem que eu queria estar aí...-disse meio triste.
Sete horas .Eu nem sei o nome dela .
Deve estar numa mesa comendo pão de queijo que acabou de comprar numa padaria a caminho de casa:imagino ela pedindo ,dando dinheiro, agradecendo e guardando o troco no bolso da bunda e indo a passos lentos para a casa ,girando a chave sem precisar procurar com o dedo fura-bolo e equilibrando aquele saco de padaria .Joga a bolsa num sofá .O gato dela mia .Vai pro banheiro fazer xixi.Pensa em alguma coisa qualquer .Pega um caderno escondido embaixo da gaveta das calcinhas e sabonetes Phebo.Chega na cozinha ,pega uma faca e um pratinho e senta na mesa .Pega a caneta que estava em cima da cadeira á sua esquerda.
E escreve .
Escreve .Depois guarda o caderno ,se dirige até a cama e tira a sua blusinha que abrigava aqueles peitinhos lindos e pequenos e a joga em cima de uma bicicleta de ginástica cheia de roupas e calças .Joga a sua Skin Art desse mês na cadeira que ela só lia quando dava e que ficava jogada de qualquer jeito na cama todos os dias.Deita só de sutiã e calcinha ;não gosta de se cobrir .Não ,ela não gosta de tomar banho quando chega.Tem um poster enorme do Nine Inch Nails da hora em cima da cabeceira que a observa todas as manhãs.Deita meio torta na cama ,com a bunda arrebitada ,de bruços e segura o travesseiro na cabeça de um jeito engraçado quando finalmente dorme.
E foi o que eu imaginei que ela fazia às 7 da matina.
De repente eu vi que tava de pau duro .
E acabei cometendo uma heresia.
Uma heresia boa e acabei violando ela naquela cama de lençóis com estampas de frases em francês na minha cabeça.As coisas boas só acontecem quando se jogam os dogmas pro lixo e ela ,deixou de ser sagrada para mim,não haviam mais adjetivos: somente pau,buceta ,língua e segredos ditos na orelha ,isso é verdadeiro pracaralho também, lindo e de um certo modo herege como deve ser.
Mea culpa pela heresia.Com orgulho.
Ah ,eu sou culpado de tanta coisa ...

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