O verão se foi.
Guardamos nossas pranchas, bermudas e pipas. Hora de correr pelas ruas com cata-ventos, pular os bancos e brincar de Jedi com os galhos que caem das árvores na Praça Pôr-do-Sol. Não há mais sol, querida; não há mais o teu reflexo ou seus cachinhos de criança pela janela olhando a gente voltar da praia com os chinelos nas mãos.
Essa molecada suja, pobre com suas pranchas de isopor de supermercado que voltam domingo à noite num ônibus capenga com os amigos.
Na casa, os pais preocupados. Outros nem tanto.
Uma vez quase morri naquelas águas, nesse fim de verão.
Imaginei a morte embaixo das águas e o que eu não veria mais.
Meu papagaio velho preso no poleiro, na minha mãe-pai-irmão e bonequinhos de plástico.
O verão, Belmont.
O verão de 64, 77, 84, 00, 07 e os que virão.
Entra, lembrança! Tem um copo de cerveja com espuminha te esperando!
Uma lembrança de mãos dadas, de casal que anda de mãos dadas pela praia na chuva, um filme velho gravado numa fita cassette, um olhar para o mundo dentro da roda-gigante...
O homem de verdade atravessa tudo isso aguardando a solidão sem medo, que nem o moleque cruza os olhos para aquela janela e nunca mais vê aquela garota.
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