quarta-feira, 23 de julho de 2008

lobo(uma cruzada pela desumanidade)

Lua cheia.
Acordei pelado naquele mato queimado da Raposo Tavares em que os cachorros morrem esperando os seus donos eternamente.Mato preto,molhado.O corpo coçava demais .
Um frio do caralho, quase não achei o meu pinto.O sangue na boca tem um efeito estranho na tua língua de manhã.
Por que me tornei um lobisomem?Quando aconteceu isso?
E é um saco virar lobisomem: ligo a tv no Cidade Alerta e lá tá o filho da puta te enchendo de adjetivos sarcásticos;uma foto de uma garota linda com o pescoço degolado a mordidas e garras profundas;uma fúria licantropa que partiu o corpo da pobre garota ao meio.
E a garota era linda :ruivinha ,peitos lindos e empinadinhos, uns olhos azuis brilhantes de morte e uma camisa do Adicts...
Caralho!Porque eu mataria uma mulher dessas!?Eu quero é mais trepar com ela embaixo das minhas cobertas e tomar vinho com ela nas madrugadas.
E lá está ela:morta de um jeito hediondo com a maravilhosa camisa do Adicts!!Eu me casaria com ela,cacete!!!
E o porra do Datena descendo a lenha na minha orelha.
Eu não lembro de nada.É como ter convulsão ,negão :apago e acordo em outro lugar;a diferença é que não tem uma doutora-sexy-de-óculos me perguntando "delicadamente" se eu uso cocaína...
É um saco ser lobisomem:imagina se estou com uma namorada cobrindo ela de beijos nas costas e colocando um Massive Attack para a gente ouvir de noite e TUF! acordo com o fêmur dela na minha boca?Mastigando osso que nem cachorro vagabundo de feira?
É,é um problema ser lobisomem,mano.
Hoje ,estou aqui de pijama escrevendo isso:acabei de vir para a casa correndo pelado,segurando o pinto ridículo encolhido nesse ar glacial .Talvez algum merdinha tenha me filmado com o celular .Já deve estar no Youtube...
(Suspiro)
Foda são as marcas de sangue e pedaços de ossos pelo meu corpo...
Água quente .Sangue descendo pelo ralo.Colorido,Sr Hitchcock:bem sem graça.
Você acha que é um saco ser desempregado,não ter namorada,ficar sem trepar,não ter grana para a balada/aluguel ou não poder sair de Gotham?
Diz isso porque não é contigo .Eu faço uma cruzada pela desumanidade e não posso me envolver para não retalhar ninguém ou acordar com um banho de vísceras na cara.
Diz isso porque não é um monstro.
Eu sou.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

zica!

Deu zica!
Podcast voltou!
É um intermezzo:quer saber o que é?Ouve lá.
E agora ,vou me exilar um pouco lá na Miami do Terceiro Mundo...
Semana que vem eu volto.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

eu era um veterano do vietnam

Não sabia escrever letras de músicas.
O violão Giannini que ganhei de meu pai era surrado com porradas, dedilhadas frustradas e acordes que não existiam.As garotas não olhavam para mim na Praça do Pôr do Sol e eu passava a treinar o meu olhar para algo que não compreendia:o sol ,que nascia lá longe dourando aqueles braços curtos delas dançando na gravidade impossível.Eles tocavam violões.
Eu, só andava com a minha camisa do Ramones que comprei da Tia Roqueira da banquinha da Teodoro.
Eu ficava que nem o Gato Fritz olhando garotas irem embora ao som de um corvo cantando refrões de paz .Aos 14 era assim ,depois de cinco anos eles cantariam as suas carreiras,metas e sua entrada no mercado de trabalho.
E assim,sem mais nem menos ,chegou a guerra e eu não sabia uma canção.
Eu nem sabia fumar maconha,eu não ouvia Hendrix ,eu nunca vi a liberdade sexual com as mulheres e seus cabelos Black e uma flor no vestido em slow-motion;a chuva caía incessantemente enquanto os homens marchavam montanha abaixo e assobiavam toda a trilha sonora obrigatória de todos os filmes de guerra já feitos.Eu dava tapas na minha cara afastando os mosquitos ,mas havia tantas canções na minha cabeça...
Minha mãe me dizia:
-Isso vai ser bom para você.Vive reclamando da vida !
Acho que ninguém pensava nisso naquela época.
Havia uma aura toda de embelezamento e loucura do que se vivia nos campos de arroz e nossas balas cortando o ar , acertando uma criança nua e nossa inconsequência indomável.
Nossos ideais.
No primeiro dia em que o helicóptero pousou e descemos apressados levando bronca de sargentos e tenentes para entrar no front , a desviar das balas e dos corpos dos nossos amigos que tombavam de um jeito inexplicável ,eu já me sentia cansado de tudo aquilo;tinha certeza que aquilo era antigo.
Eu já era um veterano do Vietnam há muito tempo:de saco cheio ,cansado ,amargo,perturbado e amputado.
E a guerra arrastou as nossas vidas,vontades e sonhos .As canções já não existiam mais ,somente os gritos dentro das têmporas reverberando no inconsciente de uma alma inútil que não será parte do mercado de trabalho ,não será independente ,não será intelectual e nem um pouco sexy;seriam os fantasmas do amanhã que lutaram por algo que não existia e suas vidas e seus ideais seriam a piada de boteco caro em faculdade de gente descolada.
Seríamos o lixo paralítico em passeatas que ninguém aparece ,livros que vão aos sebos por 0,50 cents :a turba de gente feia,de pinto pequeno,broxa e decepcionada com tudo que assistiu de final de novela-das-oito.
Hoje ,existem muitas canções para se cantarolar e não existe mais a chuva torrencial e tropical que nos castigava ao sul enquanto carregávamos os nossos rifles com nomes de garotas:só existe um mundo de cores,uma paz inexplicável/violenta e possibilidades infinitas onde você é capaz de tudo ,jovem.
-Não se esforce,amigo.
Por isso ,dentro da minha mente ,eu sempre verei balas voando nos campos de arroz em Nhan Dao.