quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

as bombas atômicas da minha infância

Tem um sonho que me acompanha desde que era pequeno.
Nele, toda a vez que subia para buscar pão na Natingui explodia uma bomba nuclear lá na Vila.
É preciso registrar que eu odiava buscar pão: não há nada mais entediante para um garoto estar brincando com os seus Comandos em Ação ou jogando Atari e ouvir a mãe gritando “Vai buscar pão!” umas mil vezes.Pra não falar que era uma fase normal de alienação-infantil perante esses problemas, devo dizer que esse hábito me acompanha até hoje: não comemos mais pão francês, só aquele Panco (antigo Seven Boyz) com mortadela e queijo naquela chapa de pobre que você enfia na boca do fogo diretamente para esquentar.E queima tudo...
Desisti de buscar pão.
E lá estava o sonho: eu, criança, indo com o saco do tamanho da Lua naquela padaria maldita com as suas abelhas-mutantes-do-filme-Sci-Fi-dominical-do-Sílvio-Santos rodeando todos os sonhos açucarados, línguas-de-sogra e fazendo os pobres moleques preguiçosos (como eu) ficarem com o cu na mão de serem picados.
Peço cinco pãezinhos e corro batendo com a mão, afastando as abelhas que insistem em me picar, essas abelhas que insistem em morrer.
É, elas morrem: deixam lá o seu ferrão enfiado na nossa pele e vão voando para morrer num lugar calmo cheio de flores e pólen, as asas ficam mais pesadas...
Dormem no cemitério das abelhas como Baleia sonhando com os preás.
Deve ser triste ser abelha.Mesmo não gostando delas, o eu-criança do sonho achava triste esse destino.
Jogo as moedas no vidro e espero a mulher contar.Agradeço como tonto desde pequeno esses seres que vivem atrás de balcões; mais tarde seria eu que estaria lá ouvindo desaforo e esperando os meus namoros fugirem na aurora de uma rotina cheia, dura e besta.Olhando o dinheiro nas minhas mãos e escrevendo sobre a vida dos outros que se encenava na minha frente.Fechando o caixa e contando tudo de novo.
Desço as escadas lindas da padaria no sonho: e só agora vi o prazer que sentia na época em estar descendo, pulando os degraus brancos com os meus chinelos velhos, cabelo espetado e camisa do Bloco do Boi.No final, não era tão ruim estar lá, ia pensando em como seria a próxima fase do Megamania no Atari.
É, bem ali, sorrindo, sempre olhava a Rua São Macário, aquela rua enorme/alta que ficava ao lado da padaria, onde descíamos de skate e os mais velhos no estilo skate-punk tinham o shape de Fernandinho Batman, onde brincávamos de Goonies e eu descia com a minha bicicleta azulzinha Caloi toda fudida e fechava os olhos: eu era o Watson/Sherlock do filme “Enigma da Pirâmide” a descer naquele cacareco pelos céus da minha infância.Nossa, eu fechava os olhos enquanto a bicicleta descia com tudo.Eu fechava os meus olhos quando fazia isso.Voava.
E nessa rua, lá no meu sonho, eu parava para olhar a descida e a vista que ela proporcionava.Surreal.
Lá longe, algo laranja caía na Vila e era tão forte aquele cometa caindo que logo fiquei surdo.Estourava como um rojão batendo no chão,soltava vento forte para todos os lados e ia espalhando fumaça para o alto como uma árvore alta em raízes superevoluídas; um cogumelo se erguia.Eu segurava o pão hipnotizado com o espetáculo,sem ouvir nada,vendo aquela coisa laranja jogar o vento com seu peso, a vista e o pôr-do-sol que se anunciava para os moleques recolherem as pipas e irem para casa tirar sua camisa encascorada de brincar.
E era lindo o fim do mundo lá na Vila com as pipas pelo ar.
Eu sonho com isso há tanto, tanto tempo que não sei dizer.É um sonho repetido, tranqüilo e igual em todos os detalhes.Eu sonho com isso antes de saber o que era um cogumelo atômico, a bomba atômica ou as razões para alguém inventar isso.Eu já devia ter visto filmes e imagens com a bomba, mas...
Eu devia ter uns 9 quando começou.A gente vivia mais, não era preso e vivia na rua, não via televisão dia inteiro ou ficava carregando o celular na bateria nessa idade.Sábado tinha luta livre: Gigantes do Ring!
Pensava na bomba atômica da minha infância no último dia do ano.Hoje.
Em como a espera é algo tranqüila e descompromissada, em como eu não tenho ansiedade pelo o dia e o ritual em si dessa passagem de ano.Nunca visto branco (coloco a camisa do Misfits),não pulo ondas e tenho sido aquele que é conhecido por fazer tudo ao contrário, aquele que veio do Mundo Bizarro; as pessoas dizem que te respeitam desse jeito como a Bridget Jones e que sou isso ou aquilo, mas cedo ou tarde a gente vira a piada numa mesa com gente chata e que não sabe beber, piada na cama de mulher que te amava com um cara- idiota-rindo-com-bafo-de-café-caro.Não há retrospectiva, só bombas e amigos; isso é parte integrante da nossa vida como as ilustrações das figurinhas nos álbuns que a gente tenta completar.
Esperamos as bombas no final de ano.Nos meus sonhos.Ela lá tranqüila.Os fogos hoje à noite com as únicas pessoas que me aturam todos esses anos e vice-versa.Pensarei em vocês todos, com certeza, mas não é por que é ano novo, mas por que eu sempre penso em todos que fizeram parte integrante da minha vida.Minhas figurinhas de álbum.Minha ficha de Pinball.A bomba tá lá no sonho até hoje.
O ano novo chega por aqui.
Quem sabe hoje à noite eu sonhe com a bomba e me assuste com aquele arrepio de criança que não tenho há tempos,hein?!Aquela coisa proibida de ver um filme de terror escondido da mãe ou brincar de esconde-esconde e uma garota linda te abraçar com medo de barata...
-É isso que significa a bomba no meu sonho, Holden Caulfield?Aquele arrepio?Nada apocalíptico?
Ah, as bombas atômicas da minha infância...

domingo, 21 de dezembro de 2008

filosofia de quadrinhos

Para que servem as palavras no papel?

Tímidas, raivosas, ou incompreendidas?O papel pode queimar, molhar, mas é mais fácil difícil acontecer isso para um papel do que para um ser humano.
Às vezes você tá lá se sentindo o fodão e (pum!) te dá um ataque cardíaco .Cê morre e a vida se encerra no meio de um espetáculo não muito popular com ingressos caros.Miguel Falabella dá risada de você na Broadway de seu teatro ruim.O papel, meu chapa, continua lá naquele caderno ensebado e empoeirado do teu quarto,da sua mochila que toma chuva e enruga as páginas: não sofre combustão espontânea ou dilúvio como desastre natural.O papel é mais forte que a gente e as palavras o deixam mais fodão que o próprio Thor.
É o Martelo com o seu nome que só você pode carregar.

domingo, 23 de novembro de 2008

meu pai era um ladrão de trem

Mike.
A vida nos ensinou que os homens devem ser fortes e destemidos como Daniel Boone. Crianças têm todo o direito de chorar, porém o pranto possui, unicamente, a função de protegê-las do mundo áspero e seco das lágrimas de um adulto. Ao longo do tempo, filho, perceberás que as coisas parecem nos cercar como as sombras inevitáveis que mudam de ângulo quando o sol se esconde à tarde.
É como se fosse "aquele peso"... Uma corrente que te puxa.
Saiba que seu pai já sentiu isso, e que todos os homens e mulheres de verdade já tiveram aquela incerteza de acordar na própria casa e não saberem onde estão. Filho, é uma sensação de tatear a parede fria do seu quarto, e achar que é uma placa com um anúncio em outra língua. All right, mate?!
Saiba que os dias, estes (às vezes) se tornarão impossíveis até para o mais simples semicerrar dos olhos. Cuidado, pois estes dias são como paredes que te apertam num labirinto. Paredes, paredes frias... Sabe do que eu digo?! Se ao acaso souberes que teve um dia como esse, filho, esteja ciente que este significa um desafio; um confronto que nós devemos passar por todos os meios necessários. Todos.
Mike, verás que esses dias são como pequenos momentos, fragmentos de tempo que te aproximarão a todos os homens e mulheres, de igual para igual. O mesmo handicap, Mike. Lembra das lutas de boxe que assistíamos à noite nos quiosques?! São dias em que todos batalham não só uma luta gloriosa para a humanidade, mas, sim, o da própria sobrevivência.
Se você me perguntasse se a vida é difícil, eu tenho que lhe dizer que "sim". Mas se me perguntar que ela é impossível, eu lhe direi que "não". Definitivamente.
Seja forte, Mike, seja o homem que quebra as paredes. Que luta justo no ringue.
Seja tudo o que quiser, Mike.
Seja o filho que eu queria que estivesse ao meu lado. Você foi o melhor amigo que alguém pôde ter na vida.
Se eu não escapar dessa, cuide da Mundinha, e chore o que tiver que chorar no dia do meu enterro; mas, se no dia seguinte tiveres lágrimas em seus olhos, irás encontrar sua primeira parede. Nomeie-a e a atravesse de mãos dadas e unidas com sua mãe.
Filho, eu te amo.
A vida segue de alguma forma, você vai ver...
                                                                        Ronnie

domingo, 9 de novembro de 2008

o som dos passos

Hoje quero fuder.
Fuder com a tua vida, cara, não o seu cu ou a sua boca: fuder com o óbvio dessa vida tosca que você leva.Que eu levo.Mas há divergências (você pode argumentar que eu estou errado, mas não há tempo às vezes) e entre a minha vida e a sua, eu prefiro a minha na repartição,envelhecendo, lá, jogado com a máquina de escrever sem ver a sua cara como sempre fiz todos esses anos.
Me disseram que você fez piada quando eu conversava com as putas lá no Centro, que eu vinha tremendo conversando com as mulheres.Você viu isso?Eu fiquei puto, porque nesse lugar de merda todos tiram o maior sarro da minha cara há dez anos de uma forma silenciosa por que todos têm medo de mim.Já ouvi que tenho cara de psicopata, louco.Era o único respeito que adquiri na minha vida.E numa noite, ri de uma forma prazerosa constatando o que era o respeito.
E você,você é um bebezão que está na firma há menos de seis meses!
Vi você no corredor outro dia com aquela mandíbula toda simétrica e seus dentes brancos como os fantasmas de comerciais Colgate e tinha certeza que falava de mim para as garotas do escritório.Fui remoendo tudo e todos os problemas, dívidas, broxadas, surras e foras que levei na vida ,tinham o seu nome.
Daí, eu planejei te matar da forma mais cruel e lenta possível; de um jeito que a literatura, cinema ou quadrinho jamais imaginou.Conde de Monte Cristo se orgulharia de mim.
Pensei muito.Tanto, que doía a cabeça.
Depois, arrependido, decidi que um mês torrando meu cérebro em uma forma original de te matar, era ser perfeccionista demais.Você não merecia tanta dedicação da minha parte.Ninguém nunca mereceu tanta assim.
Eu era um bosta que não encontrava um jeito perfeito de cortar todos os dentes brancos da sua boca ou pendurar seu crânio de um jeito decente na Praça da República...
Eu tinha um canivete enferrujado.Ele está comigo desde criança.Decidi então te furar com ele: diversas vezes,repetidas e fortes na sua cara e depois no corpo todo.Já vi gente tomar facada em boteco: a faca entra e sai que nem um pinto com lubrificante; você parece papel, boneco de Judas, babaca de escola levando tapa na hora do recreio com um punhal te penetrando (não dá para fazer nada,as mãos batem no ar tentando impedir pateticamente); é lindo.Uma faca de açougue era perfeita, mas achei o canivete mais adequado, pois o fato de ele ter enferrujado, conspirava com a missão de ter estado numa gaveta por anos só para atravessar sua carne de uma forma suave e ferruginosa.Manchar teu sangue,contaminar algo que vai morrer.
Bem, você está lendo isso nesse momento na sua mesa.
Quando eu ver que terminou ou entendeu o recado e largar o bilhete para se proteger numa reação boba de defesa ou alerta, eu vou de encontro a você com o canivete enferrujado nas mãos e vou te perfurar várias vezes seguidas de uma forma cruel e vou enfiar todos os meus 43 anos de decepções no seu corpo torneado que você desperdiçou com exercícios numa academia para ser adorado, em facadas para destituir todo o seu tecido e te desfigurar para que o seu caixão esteja fechado e sua mãe chore sem poder te ver.
Depois, talvez me prendam.Talvez eu me mate lá.Talvez mate mais gente lá.
Mas, se você chegou até o fim do bilhete sem esboçar uma grande reação e sem rir da ameaça sem pensar que foi um colega do trabalho pregando uma peça boba, talvez eu lhe poupe.Se houve um grande crescimento pessoal ao ler esse bilhete nesse meio tempo da sua vida, talvez haja esperança para você.Para mim.
Mas não me venha com putaria, seu merda: coloque o bilhete de novo na minha mesa e não diga nada, certo!?
É, parece que esse é o fim do bilhete e se não pirar de vez ,você viverá mais e sua vida não acabará aqui.Não pelas minhas mãos.Mas não pense que se eu te ver morto um dia vou ficar triste.
Agora, você sabe o que fazer.Ande a até o final do corredor em direção ao meu cubículo.
O som dos passos em direção a algo que deve ser respeitado faz um homem pensar e envelhecer mil anos de experiência em alguns segundos que não terminam.E se você fizer isso ,talvez se torne um.
Um homem.Um homem que já teve medo.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

o envelope pardo

-A-alô??
Silêncio curto.
-Novecentos.-respondeu meio sem paciência.
-T-tá...
Desligou o telefone.Depois de uma meia hora comprou um jornal, sentou num banco do Ibirapuera em frente à fonte e esperou uma meia hora.Leu o jornal meio entediado porque não entendia mais nada do mundo.Nem de futebol: o seu time não tinha mais Ademir da Guia há um bom tempo.
Quando deu sete e meia da noite, puxou um pequeno volume de uma mala, colocou dentro do jornal e levantou.Foi embora tossindo.
Um corredor calvo numa suadeira do caralho com uma bandana preta passou , sentou-se no banco e pegou o jornal.Olhou para os lados.Guardou o volume da página 7 do primeiro caderno no seu bolso traseiro.
Viu o show da fonte psicodélica do Parque.Jatos de água coloridos.Achou “legal”, mas um pouco idiota...
Depois disso, fez mais uma corrida até a saída.Pegou um táxi botando os bofes pra fora e amaldiçoando todos aqueles idiotas que se vestiam de Adidas.Inclusive ele próprio.
Chegou em casa, tirou a bandana da careca suada e fedida e a jogou na cama desarrumada.
Abriu o envelope pardo.
Deu uma bela olhada. 20 segundos se passaram.
Fechou o envelope, deixou em cima do criado mudo.Foi tomar banho.
Uns vinte minutos depois, uma mulher abriu a porta com muito esforço.Jogou a bolsa numa cadeira.Viu o pacote de cara.Óbvio.
Olhou para dentro do envelope, abrindo com os dedos.
Balançou a cabeça como se fosse uma coisa bem idiota.Era, na cabeça dela.
-Tô te esperando.-gritou meio brava na porta do banheiro , tirando a calcinha.
-Tá.
O careca abriu a porta de toalha e viu a mulher pelada na cama de perna aberta e com uma puta cara entediada de esperar.
-Você viu?-disse o careca
-Vi, vi sim.Que grande merda.
Ele balançou a cabeça meio triste.
Abriu o envelope, pegou alguma coisa dentro dele e foi para a cozinha.
Voltou com um copo nas mãos.
A mulher, puta de raiva por esperar, grita:
-E agora!?
Silêncio constrangedor de 5 segundos.Colocou o copo em cima da TV.Olhou para o relógio.
-Bem, agora tem que agüentar mais uma meia hora...

domingo, 26 de outubro de 2008

jukebox

Estamos aos prantos.
Eles dizem "choro”. É só um recurso, um estilo, uma palavra.Eles dizem que temos que comprar os livros dos homens que roubaram a infância do seu pai que queria ser abduzido, que tiraram a vontade da sua mãe de bordar patinhos num avental quando ela escrevia poemas bonitinhos sobre o primeiro amor.Eles dizem que é choro. É uma sensação antiga.Eles dizem que é dejá-vu.Eles dizem que as tuas palavras não valem nada e só os que persistem nessa vida serão os vencedores e herdarão um reino de recompensas e promessas antigas.
Eles dizem tantas coisas: que não plantamos nossas árvores no canteirinho da praça...
Que somos desgarrados e não temos mundos para colher, filhos para alimentar, namoradas para abraçar; às vezes somos párias mesmo (estão certos muitas vezes), uns desajustados.Seres que mal completaram ou alcançaram a maturidade.Os James-Deans-feios que não morreram jovens com um mínimo de decência para serem idolatrados pelo o que fizeram ou deixaram de fazer.
Normal.Todo mundo às vezes se sente como aquela hiena de desenho de Hanna Barbera.
Trocam de lado também: viram risonhos, dançam tarantella e cantam "Sympathy for the devil” num karaokê-yakuza da Liberdade se abraçando numa noite inesquecível.
Assim é a vida lá naqueles lugares: uma ficha na jukebox e uma série de músicas horríveis até chegar aquela que você colocou na máquina com carinho.Você fica lá batendo o pé, fazendo guitarrinha no ar e agitando sozinho-bêbado enquanto os holofotes te cegam. Cantando a letra até errado.Porra , é bom quando a sua ficha chega.
Eles dizem que é bobagem, ilusão.
Os porras nunca souberam esperar as músicas na jukebox.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

late night, maudlin street

Winter coming
Winter for sure, For sure
Oh, winter for sure
Winter - the snow, winter moves on


The last night on Maudlin Street
Goodbye house - goodbye stairs
I was born here, I was raised here and
I took some stick here
Love at first sight may sound trite
But it's true, you know
I could list the details
Of everything you ever wore
Or said, or how you stood that day
As we spend the last night on Maudlin Street
"Goodbye house, forever!"
I never stole a happy hour around here
Where the world's ugliest boy
He became what you see
Here I am - the ugliest man
Oh the last night on Maudlin Street
Truly I do love you
Oh, truly I do love you
When I sleep with that picture of
You framed beside my bed
Oh, it's childish and it's silly
But I think it's you in my room
By the bed (...yes, I told you it was silly...)
And I know I took strange pills
But I never meant to hurt you
Oh, truly I love you
Came home late one night
Everyone had gone to bed
But you know, no one stays up for you
I had sixteen stitches all around my head
The last bus I missed to Maudlin Street
So, he drove me home in the van
complaining: "Women only like me for my mind.."
Don't leave your torch behind, a power-cut ahead 1972, you know
And so we crept through the park
No, I cannot steal a pair of jeans off a clothesline for you
But you without clothes
Oh I could not keep a straight face
Me - without clothes?
Well, a nation turns its back and gags..
and I'm packed
I am moving house
A half-life disappears today
With every hag waves me on
Secretly wishing me gone
Well, I will be soon
Oh - I will be soon, I will be soon..
There were bad times on Maudlin Street
They took you away in a police car
Dear Inspector - don't you know?
Don't you care? Don't you know about Love?
Your gran died and your mother died
On Maudlin Street
In pain and ashamed
With never time to say
Those special things
I took the keys from Maudlin Street
Well, it's only bricks and mortar!
Oh.. truly I love you
Wherever you are
Wherever you are
Wherever you are
I hope you're singing now
Oh I do, I hope you're singing now

                                              MORRISSEY

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

n . d . a


Precisamos de alternativas.De respostas que nos satisfaçam imediatamente.Ignoremos o que está por vir, pois o que realmente importa é a satisfação: indolor, rápida e com um friozinho refrescante como uma bala de Hall´s de sabor exótico Nos dê alternativas: não nos importamos que elas sejam só duas e que elas não satisfaçam os nossos medos ,aquele momento com o nosso travesseiro babado onde ficavam os nossos sonhos.Joguemos aleatoriamente os nomes num saco.
Dos sonhos ,só nos restam cabelos nos travesseiros .E nosso egoísmo.
Nos dê alternativas.Poucas.Não importa se a) ou b): nossas esperanças estão depositadas em nomes; representam a dualidade de folhetim vista em novelas, o Ying Yang do rotineiro, do que se fala em filas do banco e se cala perante os nossos suspiros vendo a vitrine de uma bela TV gigante no Centrão.Temos alternativas então, oras!Se temos! Esqueçam dos números ímpares e tudo que é singular nessa terra fodida.Então agarrem os teus números e pensem em algo que gostariam de fazer enquanto os dois nomes serão escolhidos naquele saco fedido e aquela mão gordurosa agarra o papel A4 recortado com a sua alternativa.
Daqui a quatro anos façam o mesmo.
E assim sucessivamente.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

um sorriso gótico volta nas madrugas...

Sim,depois de 2 meses o podcast 404 na fita está de volta.
E dessa vez, carregando o legado das trevas:só som gótico !
E mais :temos Kabrunco (meu parceiro no crime) em sua primeira aparição (os fãs dele irão ter orgasmos... ) ,zumbis e uma frase que não sairá da sua cabeça tão cedo...
E,
Volta ,Madame Satã!!!!!!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

kurt,1959

Buddy Holly era um velho amigo meu no tocador de discos.
Eu não conhecia Ritchie Valens pessoalmente, mas o seu som entrou pelo rádio do meu Porsche Spyder uma noite quando voltava da faculdade e no dia seguinte já estava em casa acompanhando o velho Buddy.
Big Bopper era uma lenda naquela época: você era considerado um retardado primata se não tivesse ouvido o seu set interminável de músicas na rádio durante cinco dias! Ele até emagreceu por causa disso.
Eu estava lá e ouvi o equivalente a uns dois dias de programação, fiz parte daquilo.Meu neto me perguntou outro dia e eu esbocei um sorriso tolo, como se tivesse esperado a minha vida toda para dizer aquilo.
Eles morreram num pequeno avião. Numa moeda atirada para o céu. Todos eles eram muito jovens. Se não morressem, outros tomariam o seu lugar, pois dizem que o avião caiu depois de quase uns 3 minutos...
Não foi exatamente um bom dia para se voar no céu.
Três lendas mortas numa só tacada do destino e dos elementos. Quando soubemos do ocorrido, nos reunimos no campo de futebol da Universidade e tocamos as músicas deles pelos alto-falantes dos corredores. Timmy era o nosso DJ e tomou a rádio à força e eu fui o seu cúmplice. Tomamos vinho no campus e beijamos as garotas ao som de "Lonesome Tears". Era a nossa desculpa e elas nos consolavam, adoravam jovens mortos como todos nós.
Uma noite inteira no campus só nossa. A polícia chegou e prendeu todos. Depois de 2 horas nos soltaram: o pai de Loraine era o melhor advogado de L. A, e alegou que "os jovens estavam sobre o estresse de uma perda irreparável na música americana".
Nos livraram de tudo. Eu me senti rebelde e os caras também.
Eu só me lembrei disso porque uma noite vi no noticiário que um tal de Kurt Cobain tinha estourado os miolos em um quarto escuro. Ele era um ídolo para a molecada e sua banda era famosíssima pelo mundo afora.
E eu nunca tinha ouvido falar.
Minha mãe não sabia quem era Buddy também; o meu pai - que era xerife da polícia aposentado - achava aquilo (o rock`n roll) um caminho para a homossexualidade que não tinha mais volta. Eu achava aquilo estranho, pois aqueles nomes estavam em todos os lugares. Achava os meus pais alienados, mortos por dentro numa negação de um tempo inútil que se ergueu por força e eles não tinham controle algum.
Mas eu não sabia quem era Kurt também...
Se você me perguntasse o que eu comi no jantar de ontem no Jimmy´s eu saberia te responder por que eu sempre peço o maravilhoso bacon com ovo frito que a Sra O´toole faz todos os dias, há mais de 20 anos. Mas eu não saberia te dizer o que a minha velha Maggie fez ontem em casa.
Eu não saberia te dizer nem que dia é hoje! Porque diabos eu haveria de saber da banda de Kurt!
Mas porque isso me chateia? Porque me lembrei daquela noite com uma certa vergonha de mim mesmo?Uma autocondenação sofrível de se sentir miserável me tomou, e eu era o mais pobre diabo na face da terra.
Por quê?
Acho que chegou o dia em que me tornei papai, me tornei mamãe...

Buddy e os outros morreram ao fazer uma aposta de lugares. Jogaram uma moeda para o ar.
Que eu saiba, não havia jogado moeda nenhuma para o alto até agora .Não apostei nada, mas perdi alguma coisa no meio do caminho entre uma altura vertiginosa. Certamente.
E isso foi tão rápido, que nem me dei conta.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

going underground
















Some people might say my life is in a rut,
But I'm quite happy with what I got
People might say that I should strive for more,
But I'm so happy I can't see the point.
Somethings happening here today
A show of strength with your boy's brigade and,
I'm so happy and you're so kind
You want more money - of course I don't mind
To buy nuclear textbooks for atomic crimes
And the public gets what the public wants
But I want nothing this society's got -
 

I'm going underground, (going underground)
Well the brass bands play and feet start to pound
Going underground, (going underground)
Well let the boys all sing and the boys all shout for tomorrow
 

Some people might get some pleasure out of hate
Me, I've enough already on my plate
People might need some tension to relax
[Me?] I'm too busy dodging between the flak
What you see is what you get
You've made your bed, you better lie in it
You choose your leaders and place your trust
As their lies put you down and their promises rust
You'll see kidney machines replaced by rockets and guns
And the public wants what the public gets
But I don't get what this society wants
 

I'm going underground, (going underground)
Well the brass bands play and feet start to pound
Going underground, (going underground)
[So] let the boys all sing and the boys all shout for tomorrow
We talk and we talk until my head explodes
I turn on the news and my body froze
The braying sheep on my TV screen
Make this boy shout, make this boy scream! 

Going underground, I'm going underground!
                                                                      THE JAM 

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

o gumitado (lobo III)

Comecei a sentir umas palpitações numa certa noite do mês passado.Apertava o peito como se fosse explodir.Alguns caninos pareciam ficar maiores nessas horas, doía muito a minha boca.Sangrava.Gosto de vômito chegava na língua e voltava.
Medo da transformação.
Comprei a vodka mais vagabunda no supermercado.
Ironicamente, ela tinha um husky bem lupino no label.Guardei a garrafa para uma ocasião maldita e especial e ela chegou no mês passado.
Durante toda a tarde assisti a tv falando dos estranhos assassinatos e mutilações ocorrendo no bairro do Butantã: tinha entrado numa nóia brava e não conseguia pisar para fora de casa.Não atendia mais o telefone.Procurei na net as notícias, fatos e pistas sobre os meus crimes.
Me senti mal pra caralho.
Todas as minhas vítimas eram garotas.Lindíssimas.Algumas voltavam da faculdade, chegavam tarde pela Raposo; outras eram trabalhadoras: uma trabalhava numa farmácia, outra numa loja de conveniência...
Porque todas eram mulheres?Terei eu me tornado num lobisomem-gay?
Depois de parar para pensar muito e fritar a porra do meu cérebro, pensei que o prazer da morte em frenesi e destruição sem sentido devia ser uma coisa perversamente sexual.
Seria estranho morder o tórax definido de um cara que lê Men´s Health, mesmo para um lobo com sangue no olhar...
Por isso o “meu lobo” matava as mulheres?Mordia profundamente ela no meio das pernas.Mordia a nuca, agarrava alguns cabelos por causa da força absurda, as garras cortavam as bundas.Os jornais pensavam em estiletes e citavam o “Maníaco do Butantã”.Aparentemente o tal “maníaco” não violentava, mas a natureza da violência era toda sexual.
Cenas horríveis.Eu não via mais sentido em continuar com isso.
Bebi a garrafa toda.
E me joguei na cama.
Acordei ainda na madruga.De susto.Já era quase dia.Minha boca doía muito.
Devia estar com febre porque acordei suando muito.O corpo todo meio úmido.
Quando acendi a luz, vi a cama toda ensopada e com um cheiro forte; eu não estava com febre, tinha vomitado na cama inteira vodka Baikal.Vomitei dormindo, aquele vômito seco levemente ocre de bebida, aquele gosto de Nicholas Cage morrendo em Las Vegas.

Não havia comida: somente a bebida transparente lupina, nenhum arrozinho , fandangos/fofura ou dogão do Carioca da Usp...
E numa parte da cama, uma concentração enorme de álcool empapava o colchão, algo da vomitada parecia ter “escorregado” para fora da cama.Fiquei com medo que tinha me transformado e assassinado o meu cachorro.Terror.

Direcionei a luz para o chão e tinha “algo” ali.E numa voz embriagada eu descobri com terror o que era:
-Você bebe muito!Já te disseram isso?
Deixei cair a luz no chão e caguei no pau de medo.Lá estava a pequena criatura deitada e esparramada com os seus bracinhos ridículos e finos; tinha um nariz enorme, não tinha cabelo e estava se cobrindo com a minha camisa do Ramones.Eu poderia jurar que era alguma coisa que o Angeli poderia ter desenhado, por que aquela porra de narigão bizarro era muito do traço dele!!
Todo babado e molhado tentava se mover ,mas caia como bêbado quando se apoiava.
Eu tremia.A luz focou no corpo quando caiu.Ele disse de um jeito irônico e divertido:
-Qual é!O senhor Lobão do Butantã com medo de um merdinha que nem eu!
O medo se juntou à raiva.Combinação perigosa.O porra tinha um leve sotaque carioca.
-Que que você sabe disso?
-Calma, Lobão: eu tô mais bêbado que você , cumpadi e...
Olhou para a garrafa de vodka do husky.
-...Nuossa!Quatro real esse veneno?Se lascar, ”meu”!Eu que agüento tudo depois.
Deu uma ênfase irônica ao nosso jeito de falar de Gotham.
Peguei um travesseiro e ameacei levantar.
-Hahaha!Você vai me matar com travesseiradas, Lobão?
-Para de chamar assim, caralho!
Meu cachorro levantou com o susto.Observou aquela porra esparramada lá no chão.Tava curioso: a boca tremia como se fosse morder, algo raro no meu sabujo que não era de treta.
-Pega!
-N-n-n-n..não !Por favor, senhor sabujo.
Cobria os bracinhos ridículos que pareciam ossinhos de frango que a gente rói com os dentes; com medo do meu cachorro ;tremia de medo e frio .
Mas ele começou a lamber o merdinha.
-Hahaha!Olha, Lobão!Ele gostou de mim!Devia começar a acreditar em instintos animais...
Olhou para mim com um sorriso sacana:
-Ah!Eu esqueci que você já tem um!!!!Hahahahah!!!
Eu tive que admitir que o bostinha tinha um sarcasmo digno da família.O que era aquela porra?Meu filho??Como sabia que eu era um monstro??
Aquilo saiu de dentro de mim!?
E...
Che cazzo!!
Ele era carioca???

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

o alzheimer de todos nós

Giz de cera.
Lembrei da palavra que me parecia tão engraçada quando pivete: crayon.Tinha uma caixa deles comigo quando criança.
Era uma caixa toda espalhafatosa com desenhos de casinhas ,solzinhos e nuvens na embalagem ; dava a idéia de que uma criança era a autora da arte.Tava escrito "crayon" do lado da caixinha!
E eu me lembro perfeitamente da caixa!Dos desenhos que fiz num sulfite de tarde na escola .Do comercial da Faber Castel...
Me lembro de tanta coisa, que vivo às vezes só para lembrar : daquele desenho antigo que ninguém lembrava na roda de boteco ,do show que eu assisti há muito tempo,do que os meus amigos lembraram ontem por mim e daquela mina que existe na minha cabeça.Me pergunto se é normal lembrar de tanta coisa .Ultimamente tenho tido uns lapsos,coisa de noiado mesmo :falam comigo "lembra do que a professora falou?" e na minha cabeça aparece aquele "Now Loading" bem rapidinho .Uma imagem de um disco girando bem rapidinho.
E lembro com algum atraso.
Lembro que esse texto tinha algum propósito ,mas esqueci.
Me veio a imagem do estojo de crayons tão nítida na minha mente que eu tropecei no meu silêncio pra chegar rápido nessas teclas e escrever.Bater na máquina com raiva,escrever pra caralho.Eu me lembrei de algo e esbocei um sorriso .Morri na praia com alguma idéia olhando pra mim,se debatendo triste na palma das minhas mãos.Desapontada.
Às vezes essas coisas passam na cabeça da gente .E lá está você, dando um sorriso andando por aí ou numa fila que não anda mais.
Acho que quis escrever para não esquecer mais.
É...
Acho que foi isso.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

lobo II

Morrer entre os restos de uma manhã mal dormida.
Ela balançou os seus pés tão pequenos enquanto dormia, esbarrou nos meus que são sempre frios.Eu a abracei naquela noite e passei os meus pés feios, desproporcionais, tortos e que usaram botinhas Ortopé a minha infância todinha para aquecê-la com as minhas meias furadas.
E ela dormia ali ao meu lado, e eu a abraçava de pau duro, beijava sua nuca e ela não acordava.
Às nove horas da manhã quando o meu cachorro bateu na porta com vontade de sair para fazer seu xixi matinal , ela não reclamou do barulho dele : gania , olhava para mim emburrado , como que dizendo “abre isso aí, quero mijar, meu!”.
Não, ela ficou quieta.
Sabia que estava morta.Que ia chorar em cima do seu caixão de um jeito particular de tão doloroso e que a sua mãe me abraçaria ocultando uma certa raiva inexplicável.
Morreu ali dormindo do meu lado enquanto eu esquentava os seus pés que eu beijei tanto.
Morreu.
E não há nada para se falar da morte, a não ser que Ela (a Morte) escolhe momentos curiosos para tirar a vida.
Eu não sei, mas dessa vez não tive culpa.Não teve lua cheia.
O pai de Marcelle morreu com um livro de Picasso em cima da barriga.Dormia na rede.
Dercy morreu em meio a um sorriso.
Priscila morreu jovem.
Heath Ledger sentiu um aperto no peito sufocante.Disse algo bem baixinho .Ninguém escutou.
Ela , morreu do meu lado enquanto eu esquentava os seus pezinhos...

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

sou vil, sou reles...

Sou vil, sou reles, como toda a gente
Não tenho ideais, mas não os tem ninguém.
Quem diz que os tem é como eu, mas mente.
Quem diz que busca é porque não os tem.

É com a imaginação que eu amo o bem.
Meu baixo ser porém não mo consente.
Passo, fantasma do meu ser presente,
Ébrio, por intervalos, de um Além.

Como todos não creio no que creio.
Talvez possa morrer por esse ideal.
Mas, enquanto não morro, falo e leio.

Justificar-me? Sou quem todos são…
Modificar-me? Para meu igual?…
— Acaba já com isso, ó coração!

ÁLVARO DE CAMPOS

quarta-feira, 23 de julho de 2008

lobo(uma cruzada pela desumanidade)

Lua cheia.
Acordei pelado naquele mato queimado da Raposo Tavares em que os cachorros morrem esperando os seus donos eternamente.Mato preto,molhado.O corpo coçava demais .
Um frio do caralho, quase não achei o meu pinto.O sangue na boca tem um efeito estranho na tua língua de manhã.
Por que me tornei um lobisomem?Quando aconteceu isso?
E é um saco virar lobisomem: ligo a tv no Cidade Alerta e lá tá o filho da puta te enchendo de adjetivos sarcásticos;uma foto de uma garota linda com o pescoço degolado a mordidas e garras profundas;uma fúria licantropa que partiu o corpo da pobre garota ao meio.
E a garota era linda :ruivinha ,peitos lindos e empinadinhos, uns olhos azuis brilhantes de morte e uma camisa do Adicts...
Caralho!Porque eu mataria uma mulher dessas!?Eu quero é mais trepar com ela embaixo das minhas cobertas e tomar vinho com ela nas madrugadas.
E lá está ela:morta de um jeito hediondo com a maravilhosa camisa do Adicts!!Eu me casaria com ela,cacete!!!
E o porra do Datena descendo a lenha na minha orelha.
Eu não lembro de nada.É como ter convulsão ,negão :apago e acordo em outro lugar;a diferença é que não tem uma doutora-sexy-de-óculos me perguntando "delicadamente" se eu uso cocaína...
É um saco ser lobisomem:imagina se estou com uma namorada cobrindo ela de beijos nas costas e colocando um Massive Attack para a gente ouvir de noite e TUF! acordo com o fêmur dela na minha boca?Mastigando osso que nem cachorro vagabundo de feira?
É,é um problema ser lobisomem,mano.
Hoje ,estou aqui de pijama escrevendo isso:acabei de vir para a casa correndo pelado,segurando o pinto ridículo encolhido nesse ar glacial .Talvez algum merdinha tenha me filmado com o celular .Já deve estar no Youtube...
(Suspiro)
Foda são as marcas de sangue e pedaços de ossos pelo meu corpo...
Água quente .Sangue descendo pelo ralo.Colorido,Sr Hitchcock:bem sem graça.
Você acha que é um saco ser desempregado,não ter namorada,ficar sem trepar,não ter grana para a balada/aluguel ou não poder sair de Gotham?
Diz isso porque não é contigo .Eu faço uma cruzada pela desumanidade e não posso me envolver para não retalhar ninguém ou acordar com um banho de vísceras na cara.
Diz isso porque não é um monstro.
Eu sou.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

zica!

Deu zica!
Podcast voltou!
É um intermezzo:quer saber o que é?Ouve lá.
E agora ,vou me exilar um pouco lá na Miami do Terceiro Mundo...
Semana que vem eu volto.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

eu era um veterano do vietnam

Não sabia escrever letras de músicas.
O violão Giannini que ganhei de meu pai era surrado com porradas, dedilhadas frustradas e acordes que não existiam.As garotas não olhavam para mim na Praça do Pôr do Sol e eu passava a treinar o meu olhar para algo que não compreendia:o sol ,que nascia lá longe dourando aqueles braços curtos delas dançando na gravidade impossível.Eles tocavam violões.
Eu, só andava com a minha camisa do Ramones que comprei da Tia Roqueira da banquinha da Teodoro.
Eu ficava que nem o Gato Fritz olhando garotas irem embora ao som de um corvo cantando refrões de paz .Aos 14 era assim ,depois de cinco anos eles cantariam as suas carreiras,metas e sua entrada no mercado de trabalho.
E assim,sem mais nem menos ,chegou a guerra e eu não sabia uma canção.
Eu nem sabia fumar maconha,eu não ouvia Hendrix ,eu nunca vi a liberdade sexual com as mulheres e seus cabelos Black e uma flor no vestido em slow-motion;a chuva caía incessantemente enquanto os homens marchavam montanha abaixo e assobiavam toda a trilha sonora obrigatória de todos os filmes de guerra já feitos.Eu dava tapas na minha cara afastando os mosquitos ,mas havia tantas canções na minha cabeça...
Minha mãe me dizia:
-Isso vai ser bom para você.Vive reclamando da vida !
Acho que ninguém pensava nisso naquela época.
Havia uma aura toda de embelezamento e loucura do que se vivia nos campos de arroz e nossas balas cortando o ar , acertando uma criança nua e nossa inconsequência indomável.
Nossos ideais.
No primeiro dia em que o helicóptero pousou e descemos apressados levando bronca de sargentos e tenentes para entrar no front , a desviar das balas e dos corpos dos nossos amigos que tombavam de um jeito inexplicável ,eu já me sentia cansado de tudo aquilo;tinha certeza que aquilo era antigo.
Eu já era um veterano do Vietnam há muito tempo:de saco cheio ,cansado ,amargo,perturbado e amputado.
E a guerra arrastou as nossas vidas,vontades e sonhos .As canções já não existiam mais ,somente os gritos dentro das têmporas reverberando no inconsciente de uma alma inútil que não será parte do mercado de trabalho ,não será independente ,não será intelectual e nem um pouco sexy;seriam os fantasmas do amanhã que lutaram por algo que não existia e suas vidas e seus ideais seriam a piada de boteco caro em faculdade de gente descolada.
Seríamos o lixo paralítico em passeatas que ninguém aparece ,livros que vão aos sebos por 0,50 cents :a turba de gente feia,de pinto pequeno,broxa e decepcionada com tudo que assistiu de final de novela-das-oito.
Hoje ,existem muitas canções para se cantarolar e não existe mais a chuva torrencial e tropical que nos castigava ao sul enquanto carregávamos os nossos rifles com nomes de garotas:só existe um mundo de cores,uma paz inexplicável/violenta e possibilidades infinitas onde você é capaz de tudo ,jovem.
-Não se esforce,amigo.
Por isso ,dentro da minha mente ,eu sempre verei balas voando nos campos de arroz em Nhan Dao.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

os garçons estão sempre distantes.

Ouvindo no repeat infinito "Blue Light".Sentado numa mesa de padaria chic.Cerveja.
Não;acho que agora é hora de ouvir o som das pessoas conversando ,dos carros lá na rua ,dos copos sendo lavados nas louças daqui e da minha própria resistência nesse lugar.
Existem fragmentos ,fiapos de conversa que ilustram a vida dos outros e mesmo sendo eu um flâneur tosco ,acho a vida de todos nesse lugar mais chata do que a minha.
Mesmo que eles tenham mais dinheiro.
Mesmo que eles trepem mais do que eu .
Mesmo que eles passem o final do ano de branco em Ipanema.
Eu sou a prova de que existem pessoas .
Pessoas.
Eu escrevendo sobre essas pessoas á minha volta tomando cerveja e esperando.A minha vida toda eu esperei por algo .De alguma forma.Do jeito que espero o garçom olhar para mim para ainda pedir outra cerveja.
Eu não vejo valor nisso .Vejo as forças dos meus atos que jamais se realizaram ou que se realizarão um dia e baixo a cabeça; e encontro a folha de papel com a minha letra horrível :páginas molhadas de quando choveu e minha mochila velha não aguentou;lá estão elas ,vejo essas palavras enrugadas no papel e sei o que elas significam para mim.
Eu sou um cara em pleno domingo ,que acabou de prestar o Vestibular, escrevendo sobre o que estou vendo á minha volta e o que sinto a respeito disso , e eles,eles são as pessoas que vieram para a padaria comer um frango com maionese e batatas a 50 reais depois de assistirem o Faustão e esperam pela trepada maldada de fim de noite.
Eu sou o cara estranho-sentado-no-fundo-bebendo-cerveja e que escreve num caderno.
E eu ,eu escrevo sobre vocês.
E não quero agradecimentos.

sábado, 14 de junho de 2008

podcast :é, ainda continuo "nessa"...

Tem novo episódio lá no 404 na fita .
Dessa vez o negócio vai ser meio pesado...
Especial dia dos Queijos.
Quer saber ?Se tiver paciência ,dá uma ouvida lá:

quinta-feira, 12 de junho de 2008

feliz dia dos namorados, amor.

Eram sete de da noite .Chovia.
Ele corria apressado no estacionamento de uma daquelas livrarias enormes ,corria em direção à loja ;levantou o longo sobretudo para cobrir a cabeça da água que caia brava em Gotham.Um funcionário do McDonald´s ( tinha uma loja no mesmo lugar) veio na direção dele com um guarda chuva enorme e capa amarela:
-Quer que eu te acompanhe ,senhor?
Correndo,acabou se atrapalhando com a pergunta e quase escorregou nos seus sapatos pretos de bico fino topando o moleque.
-MOLEQUE BANANA DO CARALHO!QUER ME MATAR DE SUSTO?SAI DA FRENTE ,PORRA!
O moleque espinhento gaguejou e ficou envergonhado e vermelho de enputecido.Com aquele guarda chuva enorme nas mãos, ficou ali parado vendo o cara se afastar.
Abriu a porta da loja correndo e ouviu uns sininhos quando entrou;olhou para cima como que para comprovar o motivo de tal alarme ridículo.Baixou o sobretudo todo molhado.
Uma funcionária atendia uma senhora toda atrapalhada com um monte de papel celofane em suas mãos.Chegou do lado:
-Mocinha,vem aqui me ajudar :tô procurando um cartão para o Dia dos Namorados .
A moça sorriu e disse para o cara do sobretudo :
-Só um minuto ,senhor :quando eu terminar aqui já lhe mostro os modelos.
-Não quero modelo nenhum ;me fala onde tá que eu pego e já pago.Vou embora correndo ,tô com pressa!
A senhora perdida com o papel celofane olhou meio estranho para aquele cara enorme de sobretudo ,cabelo escovinha e umas marcas vermelhas de espinhas bem escuras do seu rosto.
Ele olhou .Retribuiu.Ela baixou o rosto .
A atendente meio amarga ,indicou com as mãos e disse:
-Em baixo daquela tv tem a estante ,no estande do lado direito.Quando es...
-...tem de coração!?!Só quero um de coração !Dia dos Namorados ,coração na capa !Só isso .
Saiu andando,cortando o ar que saia da boca da atendente e com o corpo atropelou o braço que indicava a direção inútil.
Não ouviu mais nada.Pegou o primeiro cartão que viu : tinha um coração vermelho entrelaçado com outro rosa ,como se fossem dois corações abraçados sorrindo um para o outro com boquinhas mal desenhadas num fundo branco .Aos pés do casal-corações-tortos tinha uma caixa de bombons.
Ele pensou :
-"Mais uma..."
E ficou olhando ,procurando,mirando algum chocolate no meio daquele monte de livros ,dvd´s e papéis .
-Posso ajudar ,senhor?!
Uma funcionária mais velha olhava com um sorriso meio sério ,maduro.
-Tem chocolate?
-Chocolate?Que tipo de chocolate procura?
O cara do sobretudo pegou o cartão nas mãos e olhou para o desenho da caixa de bombons aos pés dos corações que se abraçavam.Olhou por uns cinco segundos,concentrado.A atendente ajeitou os óculos enquanto o homem olhava esquisito para aquele cartão com cara de psicopata.
-Bombom ,bombom.Caixa de coração.Tipo essa.
Colocou na cara dela o cartão.Ela olhou sério para ele .Olhou para o desenho.
-Tem ,tem sim ;pode me acompanhar.Temos vários tipos de for..
-..só o coração tipo esse(mostrou o cartão na cara) e o mais bonito !Só isso ,só isso!
Ela olhou para ele ajeitando os óculos.
-Mas temos vários tipos de chocolates.
-Cadê !-meio que berrou .
Ela parou num corredor e indicou com as mãos as caixas que estavam numa bancada.Saiu andando de canto como o Leão da Montanha para longe do freak ...
Ele pegou uma caixa nas mãos.
Comparou com o do desenho.
Cinco segundos.
-Tem mais né?!-disse olhando para a mulher de óculos que já estava há uns dez metros de distância dele.
A atendente fez um gesto com as mãos.Como se apontasse embaixo de algo.
Ele fez o mesmo.Pegou outra na mão e procurou o cartão ;comparou .Saiu andando.
Foi em direção ao balcão e colocou o cartão e o bombom na cara do atendente que anotava algo num papel ,estava encurvado em cima do monitor.
-Oi?
Um atendente feio para diabo ,de rabo de cavalo que parecia aquelas moças-de-coque-novela-das-seis-de-época o olhou meio esquisito.
-Pois não.
-Pode me atender?
-Ahn...
Uma senhora chegou ao lado do cara enorme de sobretudo .
-Ô ,meu jovem :tem uma fila aqui ,não está vendo?
Ele olha para ela meio que sorrindo de um jeito assustador:
-Minha senhora,é só um cartão e uma caixa de bombom,não demora nada;já passei.
Olhou para o atendente ,ignorando a senhora.
-Não posso te atender ,ela tá na frente do senhor .Só aguardar um pouco.
O cara olhou para ele balançando a cara de um jeito assustador .Fechou a cara.Foi para trás da fila .
Quando chegou sua vez ,colocou o chocolate e o cartão no balcão.O mesmo atendente.
-35,70 .
Ele olhou para o atendente de um jeito seco e abriu a carteira :tinha um monte de notas soltas e cartões em várias divisórias.Puxou uma nota de cem e deu .Guardou a carteira.
-Por favor ,o senhor teria cartão ou 50 reais ;o troco tá meio difícil hoje: Dia dos Namorados vendemos muito e ...
-... não tenho!!Mas tem que ter troco ,como pode?
Deu uma leve batida no balcão quando falou.
O atendente olhou para ele.
-Aguarde só um minuto,por favor:vou trocar aqui na Pet Shop do lado.
Saiu andando uns três metros,colocou uma capa de chuva e pegou um guarda chuva ...
-Vai ,passa logo no cartão !-disse irritado.
O atendente voltou .Olhou para ele .
-...
Tirou a capa e guardou o guarda chuva.
Pegou o cartão e passou o valor.Enquanto o atendente passava o cartão ,viu a caneta no balcão .
-Por favor,só assinar a notinha.
Assinou o cartão dos corações com "você é a melhor namorada que já tive ,que venham muitas datas como essas.Feliz dia dos Namorados com você é demais ,te amo " e em seguida assinou seu nome no cartão com destreza e rapidez.Na mesma tacada.
Saiu correndo e escancarou a porta da saída.O vento da chuva lá fora trouxe água para dentro da loja e molhou todos os livros e revistas que estavam perto da porta .
Correu para o carro com o sobretudo na cabeça .Passou a chave no contato .
Quando dirigiu em direção a saída ,quase atropelou o moleque espinhento do McDonald´s com seu enorme guarda chuva.
-Ô,CARALHO DE MOLEQUE BANANA!DE NOVO ,PORRA!!
Berrou dentro do carro.Deu uma buzinada.
Correu na estrada.Viu uma tia vendendo rosas no farol.
-Me dá uma ,tia.
-Quer escolher?
-Não ,essa aqui mesmo .
Puxou uma que estava nas mãos da senhora .Jogou um troco pela janela e saiu correndo em disparada.
Olhou para o relógio :estava satisfeito com o seu tempo.
Parou o carro e entrou num restaurante.Deu a chave para um garoto manobrar.Pegou a sacola com as coisas.
-Toma cuidado com isso aí ,hein?!Sei de todos os meus cd´s e moedas que tem ,viu!?
O moleque olhou puto para ele.
Entrou no restaurante.
-Oi, meu amor!
-Oi minha linda !!Mulher dos meus sonhos!
Sua linda namorada num vestido vermelho e longo o abraçou e beijou .Ele retribuiu.
-Feliz dia dos Namorados,meu amor.
Esticou a sacola em sua direção .Ela sorriu muito .
-Espera ,eu também tenho um para você !!
Ela pegou a bolsa e tirou uma caixa branca de madeira cuidadosamente embrulhada num laço vermelho .Tinha uma frase e uma assinatura na borda da caixa que era em formato de moldura.
Ele olhou .
-Não acredito!!
Era uma assinatura de Jack Jonhson ,seu músico preferido.
-Meu pai estava lá em L.A e ele estava em turnê por lá ;pedi para ele por favor ir no show !Implorei!!Imagina meu pai num show do Jack Johnson!!Ele só gosta de música erudita, maestro há 40 anos!!Mas ele foi !Ficou esperando no final o Jack no Backstage,coitado!Subornou um segurança e o homem o levou até o camarim !Ele não viu o Jack ou conversou ,mas viu ele assinando o nome nessa caixa de madeira !Ele escreveu seu nome aí também,vê!!Dentro tem o novo DVD dele que nem saiu aqui e nem na Europa.E a caixa eu mandei fazer uma moldura com a dedicatória dele;você pode colocar a foto dele ou sua e dizer para todo mundo que tem uma assinatura do Jack Johnson!Personalizada!
-Nossa,querida!
-Não foi nada ,eu expliquei para ele que a gente se beijou pela primeira vez ao som desse músico.Ele diz que fez por mim e que espera que a gente se case mesmo!!Sem enrolação!!
Gargalhou de um jeito belo.Ele riu .
-Eu te amo.
-Eu também-disse ele.
Se beijaram.
-Nossa,esqueci de abrir o seu !!
-Pois é ,tá vendo!?
Ela pegou a sacola ,abriu e viu o coração cheio de bombons.
-Nossa , eu adoro esse!!!Como você sabia ?Minhas amigas te contaram de algum jeito ,não é possível!!Te amo!!
-Tem um cartão.
Ela pegou.
-Olha o desenho.
Ela se deteve ,olhou e sorriu .
-Ai que bonitinho !Dois corações comendo bombom!!
-É,sou eu e você !!E o bombom e nossa noite perfeita!Lê o cartão.
Ela leu aquilo como se fosse uma coisa linda e lírica demais para se aguentar de tanta emoção;tapava a boca com as longas unhas pintadas não se contentando de alegria.
-Eu também.Quero muitos como esse ,meu amor.-disse ela com um brilho no olhar.
Se beijaram muito.Chegou o jantar.A noite foi gloriosa.
Quando estavam saindo do restaurante,foi em direção a porta do carro do motorista e viu uma frase escrita toda riscada na lateral com violência :
"Feliz Dia dos Namorados ,amor,eis o presente do moleque banana."
E embaixo da frase , um desenho de um pinto boludo e peludo todo riscado à chave.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

dos gardenias

Dos gardenias para ti
Con ellas quiero decir:
Te quiero, te adoro, mi vida
Ponles toda tu atención
Que seran tu corazón y el mio

Dos gardenias para ti
Que tendrán todo el calor de un beso
De esos besos que te dí
Y que jamás te encontrarán
En el calor de otro querer

A tu lado vivirán y se hablarán
Como cuando estás conmigo
Y hasta creerán que se diran:
Te quiero.

Pero si un atardecer
Las gardenias de mi amor se mueren
Es porque han adivinado
Que tu amor me ha traicionado
Porque existe otro querer.

Porque existe otro querer...

Isolina Carrillo

...ando numas de ficar ouvindo só música cubana essa semana;música linda .

quinta-feira, 5 de junho de 2008

mais um filho solto no mundo...

Bom meus amigos, eis aqui o que havia prometido:
Tinha fechado o domínio lá para uns testes ,por isso ninguém podia acessar ,mas agora tá lá.
Dá para ouvir o programa no Pc ou baixar para o seu Ipobre e em breve para o Ipod também(cuidado com isso na rua ,hein?!).
Ufa!!
Mais um filho bastardo na rua.
Apareçam sempre que puderem e se possível ,quero que a voz de todos que visitam esse blog esteja lá um dia :tomaremos cerveja e falaremos merda ao som de músicas odiosas e esquecidas .
Agradeço a todos os leitores destas páginas.Mesmo.
Tava na hora de eu fazer isso e lidar melhor com essa coisa de escrever;me parece que não tem mais volta ,né?!
Deixa eu caminhar contra o vento...

quarta-feira, 28 de maio de 2008

catorze aves mortas.

Um garoto de cabelo loiro todo sujo, camisa de flanela e com seus lá nove anos, junta pedras todas as manhãs num saco de pano.Cabelo loiro ensebado.
Com um esforço descomunal para uma criança ,carrega as pedras numa trouxa com o saco.Vai para a feira que acontece todas as quartas-feiras lá na Vila.
Senta.Toma um caldo de cana que a tia toda remelenta e louca paga sempre para ele;o mais engraçado é que ela é que acha que o zoado do muleque é xarope...
Quando a feira termina ,fica observando as tias pegando um resto de tomate bichado que a japonesa arranja ali,um alface jogado lá pelo chão ,umas caixas que ficam para o pessoal que esperam o final da feira...
Com a sua faca ,corta uma laranja que pegou lá na sarjeta.É limpa e a faca corta tudo.
Terminado o espetáculo que ele aguarda todas as quartas,chega o momento em que anseava:lá perto do pastel ,tem um monte de pombas paralíticas e fudidas ,pombas que já tiveram belas asas e penas vistosas.Elas ficam lá: ciscando qualquer fiapinho de massa frita que possam jogar goela abaixo ,engolindo sujeira e bebendo água de esgoto .
Vida de pomba de Gotham.
Quando nem mais nem menos,uma pedra bem pontuda corta a cabeça de uma .Outras são esmagadas por uma pedra mais chapada e pesada .Outras ,ficam paralíticas por um segundo com a pancada nas asas,em outro ,já estão mortas indo pro inferno das pombas com um golpe de pedrada certeiro do muleque.
Os caras da feira já tentaram fazer o muleque parar ,mas ele se mostrou ameaçador uma vez que o moleque do peixe veio falar do assunto:
-Pára com isso ,moleque Cê é xarope!?
O moleque não disse nada.Passou a manga da camisa de flanela num ranho que caia de cinco em cinco minutos e fungou algo.Segurava o saco .
A matança continuava .
Depois que acabaram aquelas pedras especialmente selecionadas do seu saco de pano,juntou aquele monte de pombas-mortas-cheias-de-sangue-penas uma em cima da outra e fez uma trouxa com o saco.
O caminhão que limpava a sujeira da feira já tava lá com aquele barulhão e todos já tinham ido embora com aquela aguaceira barulhenta,menos o moleque .Sentado,comia uma tira de tomate com a faca na rua.
Não tinha medo do barulho
Tinha uns malucos lá na Vila que achavam que o muleque de tão fudido na vida,comia todas aquelas pombas assadas num latão qualquer embaixo duma ponte .Um foguinho tosco aceso;um latão preto de sujeira.Ele e sua família.
Mas o que ninguém nunca soube (inclusive o fato de enterrar todas) ,é que ele ,o muleque loiro de camisa-flanela-ranheta achava simplesmente aquelas pombas indignas de fazerem um troço daqueles :ficar pegando migalhas numa feira tosca enquanto poderiam estar voando com suas asas para bem longe dessa miséria .
Ele ,não era como as pombas...

segunda-feira, 26 de maio de 2008

do you remember rock 'n' roll radio?

Ok,eu devo estar numa daquelas famosas "crises" como as do Angeli...
Além de estar escrevendo coisas "maravilhosas" como o meu desejo mórbido de trepar com escritoras-mortas, ando ocupando a cabeça com algo mais incomum(pelo menos para mim...) e fora dessas letrinhas(talvez não muito fora...).
Algo que não tenho muito conhecimento:o tal de podcast.
É,eu sei :falta do que fazer mesmo.
Mea culpa.
Pois é ,devo estar em crise mesmo: sabe aqueles programas de rádio que você pode ouvir no próprio computador ,baixar pro seu Ipobre ou mp3 player qualquer?Não sabe??
Bem ,é isso :ando torrando a cabeça com essa merda e em breve estará por aqui .
Já está pronto o primeiro bloco do programa e adianto que será bem bizarro ;cheguei a fazer tantos testes (bêbado) que agora ficará desse jeito mesmo.Não sei se o áudio ficou do jeito que eu queria (não tive muitas opiniões),mas em breve já estará por aqui.Não digo um dia ,pois faltam alguns detalhes meio chatos.
...
-Tsc,tsc,tsc Belmont...

sexta-feira, 23 de maio de 2008

eu e florbela.

Ouvi um "tóin".
Agora mesmo, andava com um livro dela todo empoeirado em baixo do braço que nem bíblia de crente(e talvez seja a minha mesmo) e pensei:
"Você escreve com tesão!"
É,eu comeria ela.Mesmo.
E o livro dela lá :esquecido ,perdido na biblioteca daquela faculdade .Implorando por leitura.
Digo que ela é linda.Que adoro o que ela escreve.Digo para todos.
Falo para o Pedro,que odeia poesia :
-Dá aqui ,deixa eu ver a foto dela.-diz esticando os braços com uma urgência daquelas dos bebês que movimentam todos os dedos bem rápidos em harmonia ,como que querendo dizer "eu quero isso agora".
Mostro a foto dela da capa do livro.Uma foto P&B dela com aquela cara triste e adorável.Braços magros .
Gargalha e diz:"Ela é feia para caralho!!".
-Peraí ,ela não tá bem nessa foto...-digo atrapalhado.
Escolho outra .Não faz muito efeito nele.
"Mas o que eu vejo de beleza é particular",penso como criança contrariada.
Ah ,não me importo se acham ela feia...
Comeria com tesão,com paixão ,com uma certa força:ela ,ela que se acha velha no auge da mocidade,ela ceguinha ,ela com trajes de mendiga e que num misto de raiva-desdém-trepada/violenta grita bem alto "RASGA ESSES VERSOS QUE TE FIZ,AMOR".
É, comia .Mesmo.Talvez até a amasse,me perderia.
Mas ela está morta,morta como Priscila.
Gostaria que fosse assim:
Lá estaria ela ,num café em Lisboa flanando pela cidade.
E eu lá,á toa como faço nesse bar .
Nossos olhares se cruzariam por um segundo.Iríamos nos ver por vários dias nesse café .Durante uns quatro meses não trocaríamos uma palavra sequer.
E eu pensaria nela todas as noites .
Ela não iria saber.
Um belo dia ,talvez nossos olhares se cruzassem dentro do bonde após as aulas e eu perguntaria para ela :
-Esse bonde vai para onde mesmo?
Ela iria rir de um jeito amável concluindo (após um bom tempo) que eu era assim mesmo.Não foi planejado o esbarrar no bonde.
Me acharia lesado como todos acham,mas iria enxergar um charme inexplicável nisso.
E nós ,talvez nos nossos encontros casuais à tarde numa praça ,fugiríamos para um hotel e ficaríamos trepando a tarde toda .
-Escrevi algo pra você ,Florbela .-confesso.
E ela iria me olhar daquele jeito .Sorrindo.
Pela primeira vez eu vi nela,já havia visto antes em outros olhares.
Aquele olhar em que o amor começa a morrer num canto de boca de sorriso que começa a doer .
Eu perceberia isso , sabendo o que estava para acontecer...
Assim seriam os nossos encontros .
Um belo dia iria me dizer:
-Arthur ,eu creio que nossas vidas se separam aqui :eu adorei a sua entrega e jamais esquecerei o poema que fez para a minha linda vagina .
Um sorriso triste nosso.Conformados.
-Pois é,eu a olhei no espelho esses dias com calma e acho que ela é mesmo linda.Obrigado.
Silêncio no quarto cheirando a porra e suor bom.
Eu balançaria a cabeça de novo ,concordando que era uma buceta linda mesmo.
Continuou:
-Eu não te esqueço .Não te amo ,nem te odeio;mas talvez isso não importe .Levo comigo o teu cheiro.
Estaria de pé. Nua .Ali na minha frente.
Eu sentado na borda da cama, iria abrir os meus braços como quem quer um abraço,como quem precisa,como Chacal fez uma vez.Ela viria em minha direção .
E eu beijaria aquela bucetinha como se beija uma boca deliciosa,uma pontinha da língua roçando levemente aqueles grandes lábios : um beijo longo de despedida estilo Casablanca.Abraçaria a sua bunda com força.Cruzaria meus braços em volta dela.Beijo forte e retribuído .
Ela se vai .
Numa tarde dessas em Lisboa, estaria lá sozinha numa mesa do café.Lá no fundão.
Eu sei que é bem escuro lá.
Eu sabia que ela gostava de ficar lá daquele jeito.Saberia,se fosse o caso.Se acontecesse no passado.Se acontecesse nessa vida .
Pego o meu chapéu .Prendo os botões do sobretudo.Dou as costas para o café .As ruas de Lisboa solitárias e cinzas.Me despeço silenciosamente dela.
"Adeus ,Florbela Espanca."
Uma pausa?
E a voz continuaria, quando era para ficar quieta:
"Quem sabe um dia..."
-Merda,porque não me permito a despedidas????Cala a boca ,voz !!

quinta-feira, 15 de maio de 2008

um beijo escondido , harmonica ...

Eu nunca aprendi a tocar gaita.
Quando tinha uns dez anos , ganhei uma de meu pai após encher tanto o saco dele :ela veio diretamente de algum canto do mundo , para o Paraguai onde meu pai árduamente trabalhava trazendo bugigangas de lá .Ela estava lá numa caixinha linda ,retangular com bordas verdes e dentro tinha um paninho rosa de veludo para embalá-la quando dormisse ou para tirar a babinha que ficava nos buraquinhos de madeira em seu interior ; era toda revestida de um metal prateado.
Como brilhava...
Ela era linda , a minha gaita.Minha harmonica .Eu tinha ciúmes dela : quando chegava da escola , ia ver se estava lá no mesmo lugar e se ninguém tinha mexido nela .Se mexessem eu ia ficar enchendo o saco que nem criança implicante e marrenta que briga por nada ,tipo pentelho mesmo .Mas era só para ouvir a minha voz mais alta , queria que ela , a minha voz , ficasse tão alta que fizesse amizade e depois namorasse com a gaita .Que a minha voz fosse forte .
Descobri depois de um bom tempo que se a gente soprasse nos orifícios mais acima , o som saia diferente e se a gente puxasse o mesmo sopro para um lado , o som saia meio bravo , como a voz de alguém que te diz algo meio puto e taca os pratos da mesa na parede no jantar ; se a gente soprasse para o lado oposto , saia que nem voz de menina.
Minha gaita era o bicho ,maluco.
Eu assoprava ela por horas durante as tardes , e deixava os cachorros loucos uivando ; de tanto uivarem perto de mim , acabei conseguindo imitar um cachorro uivando e fazia o meu uivar sem a gaita.E ficávamos uivando ,cachorro curte uivar .
Acabei aprendendo isso .
A gaita me ensinou a chorar que nem cachorro , me estimulou .
Mas eu não sabia tocar a gaita .Mas não chegava a ficar frustrado ou puto por isso na época .
Eu queria ser um daqueles bluesman , tocando uma nota triste nela , ficar bem gordo e viver de música pelas estradas ; talvez eu venderia a minha alma pro Diabo para aprender a tocar um blues de verdade que nem Ralph Macchio em "Crossroads" .
Será que ele me ajudaria?O Diabo ??
Já parei para pensar .
O tempo passou e eu continuava soprando ela de um jeito ridículo : nunca consegui fazer uma nota decente nela e ficava horas azucrinando a vizinhança com aquele barulho que era um pé no saco de irritante.Irritante como eu .Eu tinha noção disso ...
Depois de tantas coisas difíceis , eu pegava a minha harmonica e ficava ali soprando ela até me acalmar ,até a voz sumir num protesto tímido do Drummond ; ia para baixo da minha cama e ficava olhando pro estrado.A voz e aquele sopro que não serviam para nada .Não produziam nada ,era um choro grotesco , vergonhoso ,embaraçoso pra caralho .
Uma vez ganhei de uma vizinha nossa um projetor bem safado de slides .
Quando não tinha ninguém em casa , eu ia para o quarto da minha mãe , apagava todas as luzes , trancava o quarto e ligava o projetor que era nada mais nada menos que uma porrra de uma câmera de plástico de brinquedo bem vagabunda com uma luz que saia para fora e era só encaixar as "fotinhas" no bico e ver elas enormes .Umas fotos de animais e troços de Biologia.
Mas não tinha tela para ver bonito e eu ia na cama da minha mãe , deitava com a cabeça na cama e projetava a foto de um tucano , uma onça e depois deixava aquela imagem enorme parada ali no teto ; pegava a harmonica e ficava choramingando notas que não eram nada , eram sopros , eram gritos de fúria encarcerados em alguém que crescia rápido e de uma forma desordenada .O vento era o que saia da gaita , não música .Era nada.
Meu irmão era muito talentoso com música e a gaita se deu melhor com ele de uma forma alma-gêmea : tirava umas notas , nascia um blues poderoso no sopro dele de forma fácil .Depois de ver a harmonica de namorinho com ele , soprando graciosamente melodias com ele , acabei aceitando que eu não tinha as manhas com ela e fiquei triste pra caralho .Enfiei a viola no saco e saí andando até a praça Pôr do Sol .
Ele , meu irmão que pedia direto a gaita e eu sempre dizia que era minha , acabei um dia dizendo meio frustrado ,derrotado :
-Pode levar , vai...
E lá ia ela ,contente na mochila dele .Foi para Bauru e uma pá de lugares cantarolar blues de verdade para garotas apaixonadas tomando cerveja .
Caralho , eu nunca consegui tocá-la direito , gaita ...
Mas eu juro que se eu subir agora lá no quarto dele e te achar num canto toda empoeirada e suja , juro que te dou um beijo de verdade , sem nojo ,gaita ; e vou ficar soprando você até me acalmar , até a voz e sopro sumirem , até a garganta doer e talvez , talvez nós vejamos aqueles pássaros e onças que se mostravam no teto tão enormes só para nós dois quando éramos mais novos .
Será um segredo só nosso.
Eu ,você e minha boca cheia de poeira .

sábado, 10 de maio de 2008

poema em linha reta.

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

ÁLVARO DE CAMPOS