segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

eu espero a bondade dos estranhos

Decepção: eu já estive lá.
Inclusive já estive em fases onde também tive quem também me sorrisse, Campos. Estamos perto de algo, certamente falta pouco agora. Mas e se todas as garras que me rasgam a alma desde criança me tomarem o que é meu por direito?
Não importa. Eu não li nenhum livro de auto-ajuda me preparando para o pior, mamãe. Vou colocar um The Police na vitrola velha de guerra gritando um “So Lonely” e dançar com o diabo se for para ficar na merda. Segurar na mão e tudo, pogar um pouco que nem nos velhos sons punks do século passado.
Merda: já estive lá também.
Peguei a senha e esperei o número ser chamado lendo "Angústia", tinha o marcador do incrível livro da Nati para me ajudar a não perder as páginas, mas de alguma forma fiquei a tarde toda no banco e já é noite. O número não brilhou em vermelho para mim.
O livro é maravilhoso: nosso Dostoiévski do sertão é um dos nossos melhores cabras, valeu a espera de alguma forma.Mas e se não tem um bom livro por perto?Como é que fica?
Palavras me bombardeiam, o telefone toca e o meu remédio tá acabando...
Ontem tava com sede e faltavam 5 centavos para o suco de groselha da Liberdade e me meti a procurar moedas pelas ruas, estações de metrô e galerias do Velho Centro de Gotham.Tem que olhar baixo e se acostumar a ver os pés das pessoas passando apressadas se quiser achar moedas por aqui.
Eu não pedi.Tampouco achei.
Droga, se eu dissesse que faltava só cinco o caixa entenderia?

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

morcegos para sempre


Estive me perguntando se essa noite o barulho no telhado foram os morcegos do Butantã.Eles invadem quartos à noite aqui, voam e às vezes dão voltas pela minha lanterna japonesa com o desenho de Amaterasu flutuando no céu.Era um baque surdo misturado com passos delicados, garras e danças de asas noturnas pisando no som de “God´s gonna cut you down”; o teto balançava e me lembrei de uma vez quando morava num lugar onde todos nos odiavam e ladrões pularam os telhados: saí para a rua para alertar sobre o perigo, mas deram risada da minha idéia tola.
Eu segurava uma faca nas mãos.
Barulhos, barulhos noturnos.A mão quente curtindo uma febre embaixo de um castelo de cobertas.
Eu prefiro morcegos me enlouquecendo no tap-tap fazendo um Johnny Cash, eles me levam para a idéia falsa de que vou buscar redenção a vida inteira e me afastam do flashback que as pessoas irão me dar um último adeus e a morte vai lampejar como a grande iluminação final (no final).Eu, eu estive naquela máquina de exames que faz um barulho metálico e frita tua mente em busca de um diagnóstico, uma resposta para os meus netos que irão se preocupar: o som dela nem de longe era tão agradável quanto o desses merdinhas sapateando que me entretêm como um rei.Máquina maldita, remédios malditos e lamentos malditos sobre uma possível crise: tu és tão doente quanto os outros, porque ir em busca de uma cura?Vivemos doentes de alguma forma, feios, pobres e sem alguém para se importar.
Se eu fosse um BBB tudo ia ser pior, nossa, como seria...
Eu ouço o som deles no meu teto, retumbando em uníssono.Sinto medo, mas não é tanto como daquela vez em que engoli água salgada e vi a mulher do mar me arrastar no mar em seu vestido.
Morcegos, morcegos na minha cabeça e no meu coração.
Morcegos para sempre.