Aqueles que aguardam as cartas nas trincheiras têm somente um desejo: apertar o gatilho antes do inimigo. Aqueles que esperam impacientemente as letras trepidantes de um amor perdido no outro continente querem somente a consolação dos que tem a caneta nas mãos; os fuzis permanecem intocáveis, polidos e aguardando o berro cego entre uma manhã cinzenta em Lille. Aqueles que querem tirar as nossas vidas têm filhos esperneando por pedaços de pães, mulheres quase solteiras e ferocidade em ruas desertas nos guetos; despejam no ar o protesto insano em palavras incompreendidas na primeira infância. Aqueles homens jamais serão os mesmos, aquelas mulheres erguerão uma nação, aqueles moleques famintos ouvirão um barulho tão alto que a proliferação daqueles desejos ecoará por décadas; entre nós, filhos da bomba: os que esperam alguma coisa no meio da cacofonia de restaurantes por kilo, filas na loteria e diversões caras. Aqueles que esperam não mais a paz, e sim a bomba.