Diga qualquer coisa. Diga. Diga uma palavra, uma sentença qualquer, e então eu a roubarei para as minhas histórias infrutíferas; para o meu deleite secreto e pervertido, e não retornarei nada a você... a não ser essas palavras canhestras que buscam (e anseiam) por um ponto final.
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Diga, diga aí, vai (!), qualquer coisa; e dê adeus, pois tomo à força o seu discurso. Afinal, eu sou um ladrão! Um escroque, um patife, um filho de uma puta de um fora-da-lei. É isso aí. Um ‘função’. Dos mais desonestos, dos mais cínicos e sórdidos… Sou revoltante. Reconheço. Eu roubo tudo. Sem dor na consciência, sem questionamentos noturnos em busca de um café ou whisky: a minha ‘literatura’ é uma desculpa para roubar (e devolver) algo que nem é um trocado; uma esmola. É um ‘nada’, morô?
Eu não devo nada à sociedade dessa forma... ‘roubando’ essas palavras à força, sabe?! Talvez eu seja um farsante (talvez...). Meu conceito de justiça é romanticamente desonesto, insulta os nobres bacharéis e os homens dotados de grandes ambições; o estilo usado é uma desculpa (sem fundamentação teórica) que uso apenas para praticar atos desonrosos, de uma banalidade tão violenta, que ouso chamar de ‘minha literatura’.
(dou uma gargalhada de vilão caricato quando entoo essa palavra tão pomposa...)
Lá, nesses delírios torpes das palavras que roubo (e transformo), eu enxergo um ladrão charmoso; o Robin Hood do lado de cá da ponte, o malandro que dá golpes nas feiras de praia, o moleque que coloca a ficha no fliperama e a puxa de volta com a cordinha... Afinal, me tiram tudo! Fui privado dos sonhos que cultivei! A minha vida toda eu ouvi promessas de horizontes distantes e viagens bem-sucedidas, e o que recebi em troca foi somente uma folga durante a semana e suspiros entrecortados… Meu Deus, eu só quero compensar o que perco roubando algo de vocês! Essas palavras que eram tuas...
Jamais desejei algo tanto assim. Ser ladrão.
Não ter posse de nada, a não ser das frases minhas que ouço, e roubo, por aí.