quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

são paulo soterrada sob os ossos dos meus amores

desdém, derrota e vitória. o caminho dos justos construído sob o atalho dos caídos.

essa cidade… 

o aterro, a varanda, e os olhares para os prédios. o mato da raposo no velho oeste

tudo (tudo isso) entre os ossos dos meus amores

urubus rodeando a estrada

cabeças de vaca incineradas pela molecada rebelde

cachorros abandonados, gente sem lar

nossos irmãos e irmãs, todos jogados pela Raposo

andando pela beira da estrada para não gastar condução.

(poucos sabem como é a vida aqui além dos rios poluídos…)


tudo isso somado aos meus êxitos e derrotas

soterrado sob a poeira intoxicante dos ossos dos meus amores 

ali jaz o homem, o culpado

conformado com o próprio destino, com a própria doença

alguns morreriam pelo enxofre cálcico da minha nostalgia

pela tinta da minha caneta vagabunda

pelos bytes desperdiçados nessas palavras.


(alô?)

se existe alguém aí, venha sentir o cheiro dos ossos

venha comigo

enquanto existir a palavra, haverá vida por aqui.