quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

por favor, rohypnol

Já está tarde.
Papai já foi para a cama antes de nós, princesa da minha vida.
Agora estamos sós. Como era antes de você vir para este quarto pequeno com desenhos do Pequeno Príncipe. Mamãe já te alimentava.
Nós, contra o mundo nessa noite fria, fugitivas de um destino que recusamos. Porta aberta contra a rua que não abriga mais ninguém há muito tempo. Um bairro distante, uma terra infeliz para as de nossa linhagem.
Não vai tomar friagem, não!
Papai dorme lá no quarto grande decorado com pequenos losangos que eu odiei desde o começo, mas nos amávamos e eu achava que era o suficiente. Depois as panelas velhas de herança da sua mãe morta e os panos que serviam uma geração leprosa há séculos. Acumulados em prateleiras, buracos e cantos; tecidos vadios e sem graça.
”Dariam uma bela fogueira”, a mamãe pensa.
Seguimos em frente. Contra isso. Nós duas.
Papai dorme. Deixe ele que o sono é pesado nessa noite para sempre.
Vamos dormir, querida. Longe demais daqui.

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