sexta-feira, 30 de abril de 2010

boteco

-Saudade dos tempos de ditadura.

-Ãhn?! Você nem era nascido! E o que é isso, cara?! Que idéias são essas?!

-Ah, é só mania de dizer. Fica frio. Tô cansado de ser politicamente correto: acho que vou tuitar e ver o que dá. Acha que dá muitos seguidores?

terça-feira, 27 de abril de 2010

creta

Teseu olhou para o labirinto à sua frente...

Cansou. Mesmo. Começou a bater uma punheta.

Morreu feio. E o Minotauro ainda comeu o cu dele.

Castigo dos Deuses.

terça-feira, 20 de abril de 2010

motel

-Sou menor de idade, não se importa mesmo? Não tem medo?

-Não.

-Ninguém se importa... Porque alguém se importaria, né?! Foda-se. Tá...  Então vamos logo que eu quero o meu dinheiro, caralho!

sábado, 10 de abril de 2010

pet shop

-Eu já tive um desses. São tão bonitinhos, né?!Olha essa cara de ”Mamãe me leva pra casa”!!

-São mesmo, o Jonas vive dizendo que vai me dar um faz uns cinco anos... Mas... Me diz: o que aconteceu com o seu??Se puder, é claro...

- Ah... Uma vez assaltaram a minha casa, e os putos enforcaram ele nos cadarços do varal. O Jonas sabe dessa história, foi ele que me deu o Tico de presente. É... Saiu... 

quarta-feira, 7 de abril de 2010

um bilhete escrito num guardanapo de boteco, fim de semana, fim de noite

Tudo tá esquisito, linda.
É, a vida anda foda por aqui: pouca gente, inspiração ou vinho.
Falei de vinho e lembrei de você naquela tarde de chuva que a gente fugiu para baixo de uma árvore. Ficamos olhando a chuva quietinhos.
Depois aquele vinho vagabundo, supermercados e o teto do seu quarto com uma rachadura em formato de ovelha...
“Homem bobo” cê deve estar pensando. Pensamento normal, espontâneo.Típico.
Abençoado.
Bateu aquela coisa vazia que chamam de “saudades” (porque no plural?).
É. Bateu. E eu tô meio tonto.
Vou embora: não te escrevo mais.
Nunca mais.
Tá chovendo e eu nem tenho onde me cobrir.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

reis contaminado

A fórmula existe, Lídia?
Praqueles que buscam um suspiro de paz nas tardes solitárias a vida reservará caminhos estranhos. Caminhadas longas, cafés fortes reforçando o vício de ficar pensando nas tortuosas dúvidas vindas da boca vermelha de uma mulher.
Buscam receitas, livros e programas que ofereçam uma reciprocidade: uma alteridade em sentimentos confusos pelas teclas do controle remoto da TV digital.
Daí alguém, no meio de toda essa cacofonia, ergue-se, e uma voz corajosa e desafiadora ressoa:
-E se eu não encontrar a fórmula?E se eu desistir no meio do caminho, porra??
Um silêncio pelas avenidas sem carros ecoará e não haverá mais copos sendo virados pelo Centro.
Só haverá lugar para a incompreensão e dúvida perante o espantoso protesto dos que se sentem indignados.