segunda-feira, 17 de maio de 2010

inominável, o irmão de violador

Vou engolir todas as penas desse bicho morto na sarjeta. Ele, pobrezinho, teve uma morte horrível, esmagado por um carro de um homem tolo que corria apressado para o escritório. Por isso acho que mereço engolir todas as penas numa amálgama de lixos e santos; devo me tornar parte algo, de uma alma que tocou o céu para me purificar nessa existência. E vou gritar desesperado até todos aparecerem, e quando me prenderem vou dizer que foi por sua causa que perturbei a ordem das madrugadas.
No fim, coloquei a culpa em mim mesmo. As palavras se transformam nas mãos de hábeis advogados. Habbeas corpus; Nemo me impune lacessit, Poe!
Enlouquecer...
Já pensamos nisso não é, Humanidade? Foi assim que aconteceu. Desse jeito. De um pensamento, testemunho de noites ou infortúnios, o homem desceu mais fundo que Dante e contaminou o mundo com a indesejável e infértil insanidade esterilizando a paz dos sorridentes. Eu já fui feito para a cura, já servi a propósitos considerados mais nobres que a própria existência; eu já fui experiência e Mengele deu um beijo no meu cérebro durante uma trepanação enquanto comia scargot com alcaparras naquela noite no interior longe desta cidade.
Ele chorava...
Certa vez cruzei com os desgraçados das ruas que entornam uma cachaça em busca de uma morte lenta, esses, cruzam com as asas leves da madrugada batendo o ar e soltando palavras desconexas para os que correm no Centro de Gotham, esses que vos divertem em passagens turísticas pela nossa arquitetura gótica. Vi a noite da forma que vocês não suportariam, sobrevivi; e pelo castigo desse feito me tornei um deles. Inominável é o meu nome: aquele que causa a náusea e o desconforto. Sou a imagem letal de excesso, ópio e fúria que a sua psicanálise implorou para nascer. Não me agüentam. A minha imagem é mortal para os que têm sono tranqüilo. Eu sou a barata que G.H enxergou.
Sonhe comigo, pense em mim e a sua vida se acaba antes de dar bom dia para esposa, pois eu sou a personificação viva das últimas palavras dos que foram queimados pela Inquisição, e represento todas as crianças assassinadas por diversão e luxúria. Violador, o guardador das Necrópoles de Gotham é meu irmão bastardo, e ele conhece todos vocês e se alimenta do lodo de seu mundo.
Hoje desejo o assassinato de toda a humanidade, porque nesta noite eu represento a morte de todos que foram esmagados por carros, sonhos e a livre iniciativa em troca do seu conforto, encarno a vingança de forma violenta para execrar os que gozam de uma boa saúde e tem um café com leite para tomar de manhã.
Penas coladas no asfalto, brinquedos quebrados, cabeças de boneca sem olho, cachorros sem uma perna, velhas cagadas de mijo no Jukeri, abortos e caixões pequenos: Inominável é a consciência de todos que enlouquecem: quando ouvem um louco, ouvem a mim. Preste atenção ao meu canto e em breve se tornará minha voz.
Morte a todos, inclusive a mim mesmo. Ode ao homem criador acima de tudo.

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