segunda-feira, 8 de julho de 2013

o horror cósmico extradimensional assola o terceiro mundo

Noite de 22 de setembro de 1992. Dez horas da noite. Campo minado da periferia.
Um despertar confuso. Vozes e sussurros difusos pelas esquinas sem lixeiras. Caos e cacofonia no blecaute paulistano,  aonde só ouvimos os gritos e cânticos que despertam o Alfa em ondas cerebrais minimamente calibradas para o retorno do eterno monstro que descansa nas profundezas.
Eis o nome entoado. Imemorial. Tevês quebradas, monitores com estática, o pulso eletromagnético das trevas reduz às migalhas todo o avanço tecnológico que o homem se vangloriava; meros passos confusos rumo à incompreensão da mortalidade: não há nenhum programa no ar, nem mesmo a trilha sonora  de músicas repetidas da novela ou do jornalista burguês vociferando contra a classe trabalhadora; e eu, um mero proletário, um funcionário de uma loja de departamentos que deixará um Mega Drive como herança, acompanho o fim derradeiro da humanidade pela janela da minha casa alugada, e é lindo: os enormes tentáculos descendo como uma horda de anjos enfurecidos e engolfando os prédios do conglomerado financeiro da Avenida Paulista,  rachando o Masp ao meio.
Não há resistência. Estamos encantados, ébrios com a ideia da destruição do conceito da humanidade e ansiamos pela nova concepção do renascimento cósmico.
Não ofereço resistência e me permito ao delírio. O grito da turba com raiva que esmigalha cérebros, ossos e patas é inimaginável. Estamos a um passo do último suspiro da  última criança nascida no parto do fim do mundo: grávidas que deixaram a sua prole no chão imundo e manchado da noite dos Antigos; riem da insanidade e tampouco se importam com o mínimo impulso moral ou o resquício do que chamávamos de “comportamento”. O recém-nascido e o horror da imagem refletida numa poça de um buraco que jamais foi tapado pela Prefeitura.
Mas já estávamos acostumados a isso. É o que a Luz dos Tentáculos nos transmite, traduz, converte aos que ousam ver:  uma visão tão clara que nos sentimos leves. Uma promessa tão intensa e tão sincera, que é quase como a promessa do Céu que não tivemos em nossas prestações eternas em 120 vezes pela moradia.
O último homem a morrer não se importou com nada. Nem mesmo com a honra de ser o último a cair no chão mal pavimentado do terceiro mundo onde tantos pereceram. Esse homem... sou eu.
Hoje, faço parte de algum lugar com barulhos de vento, poeira e a desolação das estrelas...


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