sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

a torre (ou 'a casa de deus')


Eu sou o raio. Eu sou a causa.
Entre tantas escórias e falsos deuses, eu sou aquele desprovido de virtudes. Eu era um assassino, um bandoleiro; um filisteu conjurado com os propósitos mais nobres... mas, por alguma razão oculta, tornei-me aquele que ascendeu à vontade interplanetária das entidades tetraplégicas adormecidas do Mar Báltico; fui abençoado e renascido no solo dos rituais pagãos e primitivos de tribos dizimadas.
Um pedido sublime, sem dúvida.
Dessa vontade, e do sangue derramado, adquiri o sopro da vida em meu novo ‘fado’, sim, pois não há fardo nessa herança: fui coroado com esse dom. Erguei aos céus e caia por minha vontade, pois não há “a casa” tampouco “deuses”: os que aguardaram ali, nas filas dos holocaustos originais, caminharão sob os corpos fustigados da fúria dos elementos por entre crânios esmagados, sonetos desperdiçados e chacinas indecoráveis.
Afinal, o fim estava próximo mesmo. Sem metafísica. No fim, no aguardado momento da revelação,  não havia segredo, apenas constatações.
Tijolos moídos, restos mortais e enxofre. Pavimentos da estrada à frente.
O raio é incerto. A fúria, definitiva...

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