quinta-feira, 6 de março de 2014

manual de robótica sexual

Costumavam dormir abraçados. Beijos e carícias. Tesão na hora certa e beijos trágicos entre despedidas calculadas diariamente. A mulher se foi. Trabalho. Escritório.
Uma hora depois.
O homem metálico batia à porta.
-Ela se foi. Podemos começar?
Ele, o homem, introduzia o pau duro em três orifícios metálicos, revezando com intensidade as estocadas. O outro, o homem metálico, aguentava tudo, impassível. Observava a sessão  de sexo com devassidão (artificial e programada minuciosamente), em um misto de tédio e olhar científico para os fatos empíricos. Armazenava todos os dados, analisava e se adequava às preferências do seu cliente com uma obsessão monomaníaca de androide.
Os dois se comiam depois, mas o homem sofria mais na alternância. Sempre pedia mais. Essa rotina era revivida nas manhãs de terça, quarta e sexta; eram dias que o homem entrava no expediente mais tarde.
Uma bela manhã de putaria depois – e carícias trocadas na cama -, o homem resolveu desanuviar algo:
-Acha que eu sou viado?!
Pergunta idiota, casual; mas jogada, propositalmente, com insistência e curiosidade pelo homem. A questão pairava e flutuava, entre baforadas de cigarro na cara do homem metálico. Por fim, o homem metálico disse:
-O senhor quer dizer “homossexual”?
O homem baforou com violência na cara do androide.
-Viado, VI- A- DO: homossexual. Cacete, eu pago uma milha para ninguém te programar direito; só sabe foder direito, bicho burro do caralho... SIM, sim! Homossexual, porra!!
Deu uma porrada no androide:
– ACHA QUE EU SOU HOMOSSEXUAL, seu balde de porra de metal!!!
O androide assentiu, sem esboçar nenhum abalo:
-Ok, pergunta confirmada. Deseja uma margem de porcentagem para a classificação proposta, Senhor?! De modo a tornar a ... O homem o interrompeu com um tom de voz alto; visivelmente transtornado de cólera com a objetividade do androide.
-Deixa eu ver ...
(pausa, 2 segundos)
– Dãããããnn, SIM, seu filho de uma puta, por favor, pooooorrrraaaa! Gritou. Silêncio.
– Afirmativo. Um momento, Senhor.
Os olhos cibernéticos piscaram entre flashes azuis e verdes numa velocidade convulsiva. O pequeno espetáculo iluminou o quarto por um tempo. Por fim, o androide anunciou o resultado.
– Você está configurado como “Homossexual” em 100%, de acordo com o programa “Sexuality”, Senhor.
Silêncio. 5 segundos.
O homem meneava a cabeça, incomodado, fumava com calma. Por fim, balançou a cabeça em negação e proferiu a sentença lentamente, com raiva e asco.
- Que piada… Sim, mas eu como buceta, como o cu dela todos os dias... Minha mulher dá para mim todos os dias e eu como mulher! Eu só namorei mulher, casei e o caralho!! Como pode isso?! Eu, viado?!! Que mistério é esse? Como eu posso ser bicha comendo mulher, caralho !!?
Começou a gritar.
- Seu rabo besuntado de óleo Radial não é o único na minha preferência!! Eu sou macho, porra!! Seu filho da puta! Como ousa, caralho?! Que merda de programação é essa?
Levantou da cama. Jogou, com violência, um pesado travesseiro de penas de ganso no homem metálico. As iniciais da mulher estavam bordadas no travesseiro caro, dado como presente de namoro há um ano.
-Eu vou te desligar, seu merda. Tá vendo isso aqui? Chega!!
Era um cartão de plástico com o nome dele escrito.
-Isso aqui vai te mandar embora. Agorinha. Quer ver?!
Passou o cartão no computador portátil de pulso. Acionou o comando de voz, aproximando o braço com o terminal implantado:
-Cancelar a assinatura do “Pau de Ouro”.
O homem metálico o olhava com uma inexpressividade tocante de androide. "Blip". Sinal de confirmação, a mensagem era visualizada pelo terminal neural e exibida no braço: assinatura "Pau de Ouro" foi cancelada com sucesso!
-Agora vai! Passa daqui, sua bicha do caralho!!
Ele foi. O androide do sexo levantou-se lentamente. Parou na soleira na porta. O sol da manhã reluzia o quarto inteiro. O reflexo do sol no metal projetava linhas difusas e cegantes no corpo da máquina.
-Vai embora, sua putinha. Xispa!
Ele ficou ali, parado na soleira porta. Nem olhou para trás:
-Acha que pode haver um defeito na minha programação, Senhor? Baseado em um acurado sistema, nós ...
O homem o olhava. Na bunda, mas olhava.
-Ãhn?! Cala a boca, porra!! Vai embora, viadinho do rabo de ferro: acabei de cancelar a sua assinatura, caralho! Tem uma cláusula especial que diz, especificamente, que posso atirar na sua bunda agora se eu quiser. Eu tenho um belo modelo de BFG-9000 aqui comigo, louco para atirar uma azeitona nuclear nas suas pregas “homossexuais”, surfista platinada!
O homem metálico continuou a andar. Não olhou para trás.
À noite, a mulher chegava. Os dois treparam.
Boquete. Gozada. Uns abraços e apertadas fortes; nada demais: era só mais uma trepada, “uma regularidade nos contratos”, pensava alguém nessa relação. Às vezes, os dois chegavam a essa conclusão mutuamente.
O homem levantava da cama nas madrugadas. No meio da noite, com o pinto meio sujo de porra, dava voltas pela casa. Sorrateiramente, quando a mulher dormia, ia para o canto da cama; lá, acessava seu computador neural e via sites pornográficos; e assistia, basicamente, a diversos vídeos de transsexuais cibernéticos, homens fodendo homens no cu, etc; tudo com toda a força motriz de uma broca de potência gigawática do velho século XXIX.
Batia umas punhetas até de manhã. A mulher saía para trabalhar, enquanto ele sentia um misto de vazio e alívio no coração.
“Preciso daquele pau. Preciso” Voz da razão.
“Não, não posso”
Relutava. Dias e noites de andanças sorumbáticas. O carro sempre optava, na volta para casa, pelo trajeto nas avenidas mais mal frequentadas. 
Mas…Uma bela manhã de sexta-feira:
“Preciso! Muito!!” - gritou o homem, aproximando o cartão do terminal. Fez alguns procedimentos no pedido.
Vinte minutos depois o homem metálico voltara; o homem deu um beijo maravilhoso na boca do homem metálico. Foi foda. Pediu que, imediatamente, alterasse o tamanho do seu pau-broca para um metro. O androide o fez, sem titubear.
Gritos, gozadas, carícias depois.
-Acha ainda que eu sou viado, sua máquina suja e gostosa?!
Questionava ao androide o homem todo contente, cheio de porra artificial química na cara e extasiado com o desempenho da máquina.
-Hein?!
Gritou sadicamente:
- Fala, seu filho da puta!! Fala agora!!
O homem metálico não dizia nada. Silêncio. Só projetou uma mensagem holográfica no ar com as letras em fonte Book Antiqua em alta resolução:
“Esse androide não possui mais o programa de classificação de preferências sexuais, “Sexuality”; pedimos desculpas, e ressaltamos que essa unidade não pode ser mais reprogramada, ou questionada, sobre assuntos relacionados à classificação de sexualidade de terceiros”
O homem sorria, sorria, sorria…
… tamanha, e descomunal, era a sua felicidade.

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